Abstract

Anne Carson é atualmente uma das mais aclamadas poetas, ensaístas, dramaturgas e tradutoras de língua inglesa, entretanto, a precisão destes termos se torna nebulosa diante da autora que tem como traço fundamental a mescla e desarticulação dos limites literários. Este procedimento marca Carson como alguém que pensa o literário a partir do ato tradutório, entendido por ela como a possibilidade de deixar duas realidades distintas visíveis, criando um ambíguo local que não pode existir, porém que é apresentado e performado a nossa frente. Dentro deste escopo, proponho olhar sua tradução da Antígona de Sófocles, titulada Antigonick, como um artefato de linguagem, uma partitura para realização de um ato de linguagem, para a realização do grito que chamamos de Antígona. Esta será pensada junto à tese de multiplicidade tradutória linguística presente em Borges, Cassin e Ricoeur, em que a tradução pode ser compreendida como um elogio ao múltiplo, como um saber se movimentar entre fronteiras e limites, um mover rumo a diferenças; fato que está presente na tentativa de Carson de traduzir algo distinto – o silêncio – de uma forma distinta – catástrofe –, de pensar outra possibilidade para aquela linguagem que fuja ao discursivo comum, dando voz a uma fúria contra o clichê e tendo como base a ololyga, grito ritual feminino da Grécia antiga, e as concepções da mulher como aquela que rompe limites por excelência, aquela que polui, que desloca e que toca com a voz. Por fim, a partir das concepções de Carson, argumento que a tradução e a performance são modos privilegiados para pensar o mundo, a multiplicidade e as diferenças.

Highlights

  • ISSNe 2175-7917 as a way of moving between boundaries, always heading towards differences. This is present in Carson’s attempt to translate something distinct – silence – in a distinct manner – catastrophe, of seeking another possibility for language that departs from everyday discursively, giving voice to a fury against cliché, and having as her paradigm the ololyga, an ancient Greek women’s ritual scream, and the idea of women as the one who confounds boundaries, one who pollutes, who moves that which she touches with her voice

  • In all, based on Carson’s conceptions, I argument that translation and performance are privileged modes for thinking the world, in its multiplicity, and its differences

  • “like poor Mrs Ramsay who died in a bracket of To the Lighthouse” Eurydike em Antigonick (2012)

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Summary

Ontologia do teatro e da tradução

Para performar Hamlet no Brasil necessito de uma tradução (que já será uma diferença com relação ao texto em inglês). E as performances irão ser sempre diferentes entre si.[16] Portanto, a tradução teatral adiciona mais uma camada de diferença à tradução literária ao re-performar algo que é direcionado a uma constante re-performatização. Poderíamos até dizer que esta ambiguidade entre traduzir e recriar é inerente ao modo de ser do teatro que, de acordo com Hale e Upton (2014), tende a uma relação de assimetria textual entre texto fonte e texto traduzido (ao invés de um simples texto paralelo). O que na fenomenologia é uma constatação epistemológica com relação à construção de sentido, para Borges (2008) será base de uma elaboração sutil acerca da efemeridade como característica do modo de ser dos objetos:. Borges (2008) indica a constante valoração da construção desta galáxia – um elogio à multiplicidade –, que perpassa a dissociação do caráter negativo do trabalho tradutório, ao mesmo tempo em que o autor nota que estas implicações deveriam ser estendidas a todas as obras literárias, isto é, Borges (2008) indica o caráter contingente do literário e do tradutório e uma lição do segundo ao primeiro

Multiplicidade linguística tradutória
Silêncio tradutório e fúria contra o clichê
Considerações finais
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