Abstract

No conto Umas formas, de Tutaméia terceiras estórias (1967), a poética do animismo se desvela. Lápides com epitáfios no cemitério contíguo à igreja formam com a “nave” o cenário que é frequentado por um padre, um sacristão e um maçom, um fantasma e um monstro, todos envolvidos em episódios insólitos, de aparição, tentação e medo. É pela teoria da alma, antes mencionada pelo próprio autor João Guimarães Rosa, que se dá uma leitura possível dos enigmas propostos no conto rosiano de temática não apenas religiosa. O animismo integra-se às teorias do fantástico como aparato teórico-conceitual literário, mas também como conceito antropológico e filosófico. Nesta investigação, serão mencionados o filósofo Agostinho de Hipona, com seus conceitos teológicos sobre a tentação; o estudioso das religiões Graham Harvey, proponente do “novo animismo”, e os antropólogos Philippe Descola, com sua quádrupla ontologia, e Eduardo Viveiros de Castro, com o perspectivismo e o multinaturalismo, fornecem uma base interpretativa a altura dos enigmas rosianos.

Highlights

  • In the tale Umas formas, from the book Tutameia terceiras estórias published in 1967, the poetics of animism is unveiled

  • Trata-se de um vocabulário recolhido do conto que, se não esgota todos sintagmas, há de exemplificar e nortear a seguir as reflexões sobre o caráter insólito e o animismo no texto rosiano

  • Citações rosianas não têm sido poupadas pelos cientistas de outras áreas do conhecimento, justo porque a obra se oferece a diferentes leitores como mundos possíveis para investigar a condição humana em sua dicotomia, fisicalidade e interioridade, com o tema mais instigador e misterioso até hoje proposto: a alma humana, o infinito

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Summary

Introdução

E como é que às criaturas confere-se andarem soltas, assim, separadas umas das outras, como bolas ou caixas, com cada qual um mistério particular, por aí? A gente aceita Adão e seu infinito quociente de almas. Prudencinhado, um guia-decego, protagonista do primeiro conto de Tutameia terceiras estórias, é nome que deriva da palavra prudência, mas essa identidade se expressa apenas ao final da narrativa, ainda que desde o início o guia suplique para o delegado: “segure a alma de Seu Tomé se for capaz!”; “Mas eu não cismo como foi que ele do barranco se derrubou e rendeu a alma.” É assim que Viveiros de Castro, no livro A inconstância da alma selvagem (2013), investiga o perspectivismo e cita como exemplo o conto rosiano Meu tio o Iauaretê, de Estas Estórias, para evidenciar a diferença entre o modo como os seres humanos veem os animais e como estes veem não apenas os humanos, mas outras subjetividades que povoam o universo, como deuses, espíritos, mortos, plantas, objetos, artefatos. É como princípio vital que a alma foi objeto de especulação para Santo Agostinho: a existência de uma alma viva, animada pelo verbo

Da indefinição de Umas formas
A alma e a filosofia teológica
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