Abstract
Partindo de uma discussão do crescente interesse que as escritas de si têm despertado tanto na crítica quanto no público leitor, o presente artigo foca em aspectos teóricos que distinguem a prática do escritor irlandês W. B. Yeats em dois gêneros de escrita auto/biográfica: a autobiografia propriamente dita e o diário. Propõe-se análise que bebe de fontes teóricas de diversos contextos nacionais para atualizar o público brasileiro acerca das discussões que compõem a fortuna crítica deste importante autor das literaturas anglófonas. Yeats se apresenta como um sujeito exemplar para investigar-se a constituição do sujeito-escritor, as (im)possibilidades da memória e sua representação no espaço da escrita, em função da riqueza de seu acervo, da tradição dos estudos genéticos e biográficos que sempre caracterizaram a crítica yeatsiana e por sua própria preocupação com essas questões, presente em todos os gêneros de sua extensa obra.
Highlights
A premiação da escritora criada na Bielorrússia Svetlana Alexievich com o Prêmio Nobel de Literatura em 2015 – talvez como precursora da indicação ainda mais controversa de Bob Dylan no ano seguinte – chamou atenção não somente pela questão de gênero social mas também em função do gênero textual da maior parte das obras publicadas durante sua longeva carreira: trata-se da primeira premiação de uma escritora de literatura nãoficcional em mais de cinquenta anos (ALTER, 2015)
Em sua obra seminal e voluminosa, Histoire de la sexualité ([1976-84] 2013), em que desenvolve uma genealogia do sujeito, bem como na secção “L’écriture de soi” em Les mots et les choses ([1966] 2000), Michel Foucault introduz uma das mais complexas discussões da formação do sujeito, afetando profundamente os estudos literários como parte de uma onda pós-estruturalistas que veio caracterizar a “virada teórica” em departamentos de literatura em todo o mundo
As duas outras formas de escritas de si de que trata este artigo têm seu status menos consolidado nos estudos literários e muitas vezes continuam a assumir um papel ancilar2 em face à produção literária dita “maior” dos escritores, permanecendo os diários e as cartas principalmente como fontes documentais e arquivísticas, a serem consultados sempre em complemento às obras produzidas contemporaneamente
Summary
A premiação da escritora criada na Bielorrússia Svetlana Alexievich com o Prêmio Nobel de Literatura em 2015 – talvez como precursora da indicação ainda mais controversa de Bob Dylan no ano seguinte – chamou atenção não somente pela questão de gênero social (foi apenas a décima-quarta mulher premiada na categoria em mais de cem anos de existência do Nobel) mas também em função do gênero textual da maior parte das obras publicadas durante sua longeva carreira: trata-se da primeira premiação de uma escritora de literatura nãoficcional em mais de cinquenta anos (ALTER, 2015). Seu desenvolvimento na contemporaneidade vem se beneficiando de debates filosóficos sobre a natureza do eu, do sujeito e dos processos de subjetivação, incluindo seus aspectos performáticos, nas obras de Michel Foucault (2000; 2013), Julia Kristeva (1977) e Judith Butler (1990; 1993; 2005), bem como de um aumento do interesse na figura do escritor, proclamada com grande alarde como “o regresso do autor” (título utilizado por Séan Burke em 1992 para seu estudo de Return of the author). As duas outras formas de escritas de si de que trata este artigo têm seu status menos consolidado nos estudos literários e muitas vezes continuam a assumir um papel ancilar em face à produção literária dita “maior” dos escritores, permanecendo os diários e as cartas principalmente como fontes documentais e arquivísticas, a serem consultados sempre em complemento às obras produzidas contemporaneamente. A própria distinção entre memórias e autobiografia parece ser mais uma questão mercadológica, como no chamado memoir boom do século XXI, ou ideológica, como a rejeição do rótulo de autobiografia por escritoras que se veem alheias à tradição patriarcal e eurocêntrica que identificam no termo (SMITH; WATSON, 2010, entre outras)
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