Abstract
Judith Butler, em sua reflexão sobre o sujeito do feminismo, denuncia as exclusões decorrentes e legitimadas pela "mulher universal". Seyla Benhabib, por sua vez, formula outra concepção de sujeito, a partir do debate com Butler, buscando respostas capazes de preservar o que considera totalmente comprometido no argumento de Butler: a possibilidade de justificar uma concepção normativa de igualdade de gênero e ação política. No entanto, Benhabib não parece ter sido totalmente bem-sucedida nessa formulação, porque o núcleo do self em seu modelo é neutro quanto ao gênero. É em razão desse "déficit de contextualização" em Benhabib que Simone de Beauvoir é introduzida no debate. O principal argumento deste artigo é o de que a concepção de subjetividade que Beauvoir enuncia em O segundo sexo pode complementar a noção de sujeito de Benhabib com uma concepção mais contextualizada e corporificada do self, que seria compatível tanto com a demanda de contextualizar o sujeito quanto com o compromisso teórico e político da crítica feminista com a igualdade de gênero.
Highlights
A recepção de O segundo sexo de Simone de Beauvoir foi e ainda é bastante controversa
buscando respostas capazes de preservar
denounced the exclusions that derive from the “universal woman
Summary
A recepção de O segundo sexo de Simone de Beauvoir foi e ainda é bastante controversa. O livro de Butler tornou-se uma referência teórica central para o feminismo em todo o mundo, tendo gerado muitos debates, dos quais um dos mais importantes, do ponto de vista da teoria política, corresponde à discussão entre Butler e Seyla Benhabib. Benhabib identifica-se com a vertente da teoria crítica, para a qual é possível e necessário manter a teoria comprometida com uma concepção normativa 42 de igualdade; enquanto Butler equipara discursos igualitários a discursos de poder, mesmo quando são formulados e mobilizados por movimentos sociais como o feminismo. O modo como Butler sustenta teoricamente sua crítica ao sujeito abstrato compromete a ideia de ação política capaz de transformar ou mesmo ultrapassar assimetrias sociais. Nesse embate, Benhabib parece estar correta em assinalar que, para criticar a essencialização do sujeito do feminismo e sua ilusória universalidade, não é necessário (nem tampouco desejável) abdicar da justificação de concepções de igualdade de gênero normativas
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