Abstract

O principal ponto de desacordo sobre a abordagem kantiana do problema da verdade é se ela pode ser compreendida nos moldes da filosofia contemporânea como coerentista ou como correspondentista. Primando por uma consideração sistemática da argumentação de Kant em confronto com a literatura existente sobre o problema, este trabalho defende a segunda alternativa. Sustenta-se a tese de que a definição da verdade como a "concordância do conhecimento com o seu objeto" é cogente em todo o percurso do pensamento kantiano e que, nessa acepção, a verdade culmina por ser abordada não a partir de uma teoria estabelecida, mas como um problema cuja solução não pode ser dada nos limites da filosofia crítico-transcendental. Pondera-se, primeiramente, a literatura que situa Kant quer como coerentista quer como correspondentista e sistematiza-se a segunda alternativa em quatro grupos: a leitura ontológica, a leitura isomórfica, a leitura "consequencialista" e a leitura regulativa. Num segundo momento, em atenção ao período pré-crítico, argumenta-se que a alternativa coerentista deixa de se confirmar já nessa mesma época e que, na década de 1750, Kant descarta uma suposta teoria correspondentista isomórfica. Num último momento, considera-se a argumentação crítica e defende-se que a mesma concebe a verdade como um problema fundamental que não cabe ao tratamento de uma teoria correspondentista concebida de modo "consequencialista" ou regulativo.

Highlights

  • RESUMO: O principal ponto de desacordo sobre a abordagem kantiana do problema da verdade é se ela pode ser compreendida nos moldes da filosofia contemporânea como coerentista ou como correspondentista

  • The main point of disagreement about Kant’s approach of the problem of truth is whether it can be understood within the apparatus of contemporary philosophy as a coherence or a correspondence theory

  • It is sustained that the definition of truth as “the agreement of cognition with its object” is cogent throughout Kant’s thought and that it is approached not from an established theory, but as a problem to which a solution cannot be given within the boundaries of the critical-transcendental philosophy

Read more

Summary

A VERDADE COMO UM PROBLEMA FUNDAMENTAL EM KANT

RESUMO: O principal ponto de desacordo sobre a abordagem kantiana do problema da verdade é se ela pode ser compreendida nos moldes da filosofia contemporânea como coerentista ou como correspondentista. Em atenção ao trecho de B 350-51, no qual Kant sustenta que a verdade se situa no juízo sobre o objeto, defende-se que o mesmo não serve de apoio para uma leitura coerentista e também desmente essa leitura, no contexto da teoria kantiana do juízo. Em atenção ao trecho de B 82, no qual Kant apresenta a definição de verdade como a “concordância do conhecimento com seu objeto”, sustenta-se que o mesmo serve de base para se ponderar a posição kantiana sobre o problema da verdade como correspondentista, não num plano “regulativo” ou “consequencialista”, mas fundamental de sua filosofia teórica. Recentemente, uma reconstrução mais cuidadosa da argumentação kantiana objetiva não apenas revelar a interpretação coerentista como errônea, mas também justificar como Kant de fato apresenta uma resposta para o problema da verdade, mediante a alternativa correspondentista. Que as leituras “consequencialista” e regulativa também não configuram a mesma posição verifica-se na terceira seção, na justificação de uma leitura que pretende representar o empreendimento crítico sobre o problema da verdade

O percurso pré-crítico da consideração do problema da verdade
O problema da verdade no período crítico
Full Text
Published version (Free)

Talk to us

Join us for a 30 min session where you can share your feedback and ask us any queries you have

Schedule a call