Abstract

Este trabalho tem como objetivo analisar, com o apoio dos estudos sobre a loucura, de Michel Foucault, de que forma é criado e desenvolvido na narrativa o mundo paradoxal do narrador de “Aberração”, conto do livro homônimo de Bernardo Carvalho. Neste universo em que o leitor é inserido, características consideradas extremas como a razão e a loucura, o bom senso e a perda de referências passam a ocupar o mesmo espaço, dividindo as mesmas responsabilidades e funções, em um contínuo diálogo de contradições que se complementam. Abre-se, então, um leque de possibilidades que transformam a narrativa em um jogo circular e labiríntico em que as características psicológicas do narrador passam a refletir o aceitável e o improvável simultaneamente. Ao testemunhar tal processo, o leitor é exposto a seu próprio e inevitável curso de tentativa da revelação de pistas, vestígios e indícios sobre a possibilidade da existência de verdades em um panorama que o perturba, ao mesmo tempo em que tem o poder de capturá-lo. Lentamente, vai-se criando um sistema onde detalhes transformam-se em fatores determinantes e assim, ao inverterem-se as percepções, fundem-se também os conceitos de loucura e razão: tanto um quanto o outro fazem sentido e, ao mesmo tempo, permanecem ilógicos. Ao mergulhar em um mundo em que limites desaparecem, o leitor é forçado a desvendar seu próprio mistério em uma narrativa que une devaneios, sexualidade e hipnotismo sonoro ao construir um discurso instável e provocante.

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