Abstract

As reflexões sobre a pintura atravessam todo o itinerário da obra de Merleau-Ponty e parecem indicar os motivos do movimento e da unidade do seu pensamento, especialmente quando buscamos compreender o alcance significativo da percepção enquanto um acontecimento pré-reflexivo. A experiência da percepção é radicalizada na pintura que expressa um "nível primordial" - "leva à sua última potência um delírio que é a visão mesma" - com todos os caracteres que a própria fenomenologia buscou atingir ao descrever as diferentes formas de experiência perceptiva, seja através da descrição da experiência pré-reflexiva do corpo próprio ou, finalmente, da concepção de fé perceptiva enquanto "doação em carne". A pintura realiza a intenção mais genuína de uma filosofia dedicada à descrição do pré-reflexivo: testemunha e interroga o ser. O pintor, como indicam as análises sobre Cézanne, ao permanecer no solo originário, sem a necessidade de justificativas ou de fundamentos, livre da obrigação de anunciar uma tese ou uma convenção sobre o mundo, expressa a significação mais bruta da percepção: aquilo que faz do visível ser visível.

Highlights

  • Em A Estrutura do Comportamento e na Fenomenologia da percepção esse recuo pode ser descrito como o ato inaugural de uma onto-fenomenologia, uma redução à existência carnal do sujeito e ao fundo primitivo da percepção

  • O pintor é como um fenomenólogo genético, mas com a vantagem de expressar ao corpo – falar aos olhos – o mundo que é dado na sua experiência direta e sensível.A filosofia que anima o trabalho do pintor, conforme a interpretação merleau-pontyana, não é comparável ao realismo empírico ou ao idealismo transcendental, é uma filosofia assentada na reflexão corporal do ser no mundo.Além do mais, a pintura não é imitação, é expressão do sentir

  • A linguagem da pintura, o conjunto representativo da cor, da linha, da textura e do desenho compõe uma força expressiva capaz de comunicar como as coisas são podem ser expressas.A pintura é sinestésica, é entrecruzamento de todos os sentidos e técnicas e – como interpreta Merleau-Ponty em uma nota de trabalho de outubro de 1959 – realiza o projeto alcançar e expressar a vida irrefletida sem traí-la, sem se ausentar dela: (...)Então o ato de desenhar e de pintar, – o ato de pintar como em si mesmo – e de pintar como outro isolam-se um do outro e não se vê mais relação entre eles.Vê-la-íamos, pelo contrário, se compreendêssemos que pintar, desenhar não é produzir algo a partir de coisa nenhuma, que o traço, a pincelada e a obra visível não são senão o vestígio de um movimento total da Fala, que conduz ao Ser na sua totalidade e que esse movimento abarca tanto a expressão pelos traços quanto a expressão pelas cores, tanto a minha expressão como a dos outros pintores.”(MERLEAU-PONTY 2000, p.197)

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Summary

Introduction

Em A Estrutura do Comportamento e na Fenomenologia da percepção esse recuo pode ser descrito como o ato inaugural de uma onto-fenomenologia, uma redução à existência carnal do sujeito e ao fundo primitivo da percepção.

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