Abstract

Resumo A partir da análise de um amplo conjunto de narrativas sobre a origem da noite, obtidas junto aos povos indígenas da bacia do Alto Rio Negro no noroeste amazônico, este artigo explora o modo como esses povos representam a alternância entre o dia e a noite em diferentes planos de significantes - nos sons e cores dos insetos, pássaros e animais da floresta; nos materiais, texturas e cores de suas casas e objetos; no corpo humano; e na música e na dança rituais. Este último plano nos permitirá compreender o ritual como um mecanismo de controle do tempo. Além disso, espero lançar luz sobre as razões pelas quais, em muitas línguas da família Tukano Oriental, os termos para "sol" e para "lua" significam também, respectivamente, "colmo" e "folha".

Highlights

  • Em ensaio anterior sobre o significado dos ornamentos corporais no noroeste amazônico, sugeri que a caixa em que os ornamentos são mantidos “é um operador espaçotemporal, uma manifestação do sol, um ser vestido com uma brilhante coroa de penas que ordena a passagem do tempo” (Hugh-Jones, 2014: 161)

  • Entre os falantes de línguas tukano há, além disso, uma associação geral entre grupos patrilineares e a língua, de modo que grupos exógamos são tipicamente unidades linguísticas

  • A residência não obedece necessariamente às regras patrilineares e patrilocais, e reivindicações associadas ao pertencimento ao grupo são frequentemente alvo de disputas

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Summary

A ORIGEM DA NOITE E POR QUE O SOL É CHAMADO DE “FOLHA DE CARANÁ”

Em ensaio anterior sobre o significado dos ornamentos corporais no noroeste amazônico, sugeri que a caixa em que os ornamentos são mantidos “é um operador espaçotemporal, uma manifestação do sol, um ser vestido com uma brilhante coroa de penas que ordena a passagem do tempo” (Hugh-Jones, 2014: 161). Algumas histórias oriundas da porção sul do noroeste amazônico contam que, enquanto os Criadores dormiam, o Dono da Noite veio em forma de morcego e arrancou-lhes os olhos, para assar e comer em casa, como punição por não terem obedecido a suas instruções. Nem todas as versões trazem detalhes, porém, quando é o caso, fica evidente que os Criadores deveriam abrir o recipiente no interior da maloca e, de preferência, no contexto de uma dança ritual, apropriado para os encantamentos xamanísticos que protegem as pessoas dos perigos associados à noite.[2] As outras instruções dizem respeito a como pôr um fim à primeira noite e garantir a alternância regular e bem medida entre o período noturno e o diurno. Os Criadores usam “varas de pesca” para golpear a caixa, primeiro para abri-la e ver o que ela contém, depois para persuadir alguns dos grilos a voltar para dentro, trazendo a noite ao seu fim (Andrello, s.d.)

Outra versão segue-se assim
Uma última versão narra o seguinte
A LANÇA-CHOCALHO E A CAIXA DE PENAS
A ORIGEM DA NOITE: E POR QUE O SOL É CHAMADO DE “FOLHA DE CARANÁ” Resumo
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