Abstract

Este artigo tem o objetivo de realizar uma análise do filme A Bruxa (Robert Eggers, EUA, 2015), a fim de demonstrar como o tema da busca de autonomia feminina em uma sociedade cristã fundamentalista, no espaço ao mesmo tempo selvagem e inóspito da Nova Inglaterra, constrói, conduz e modula as convenções do horror dentro dessa narrativa. Para tal, examinaremos, primeiramente, de que maneira o contexto histórico e religioso dos EUA do século XVII produzia famílias incapazes de lidar com a ideia de autonomia feminina, vista como não natural – e, portanto, potencialmente sobrenatural. Também discutiremos brevemente como o processo histórico estadunidense dos séculos XVII e XVIII originou uma longa tradição de narrativas de horror passadas na região da Nova Inglaterra, às quais o filme A Bruxa também está relacionado.

Highlights

  • Questões de gênero e de diferença sexual são centrais para o gênero narrativo do horror, como já mostraram Julia Kristeva (1982), Carol Clover (1993), Linda Williams (1996), Barbara Creed (1993), KierLa Janisse (2012) e outras pesquisadoras, que, sob diferentes enfoques, consideram o incômodo patriarcal em relação aos corpos das mulheres como tema central das narrativas de horror

  • A notável centralidade desses temas para os filmes de horror que começaram a ser feitos a partir de 1960 fez com que o gênero passasse a receber maior atenção dos estudos teóricos e críticos, aliando aspectos atraentes para abordagens de questões como a representação da ansiedade individual e social originada por eventos que escapam à normalidade (Humphries 2002, a construção de um tipo específico de prazer visual ligado a processos inconscientes (Mulvey 1983), a frequente apresentação da família nuclear burguesa em situações extremas e irreconciliáveis (Wood 1979), e o destaque para experiências de agressão e desorientação que remetem a práticas do cinema moderno (Burch 2011)

  • Especialmente a partir de meados da década de 1960, filmes como Repulsa ao sexo (Repulsion, 1966); O Bebê de Rosemary (Roman Polanski, 1968); Valerie e a semana das maravilhas (Jaromil Jires, 1970); O Exorcista (William Friedkin, 1973); Suspiria (Dario Argento, 1977); Carrie – A Estranha (Brian De Palma, 1976); Os Filhos do Medo (David Cronenberg, Canadá), entre outros, marcaram um processo em que as protagonistas femininas foram se tornando progressivamente mais frequentes nos filmes de horror, fazendo com que autores como David Greven (2011) chegassem a afirmar que, a partir de Psicose, “uma forma nova e significativa no filme de horror moderno (...) repropõe o melodrama feminino e o expande” (2)

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Summary

Introdução

Questões de gênero e de diferença sexual são centrais para o gênero narrativo do horror, como já mostraram Julia Kristeva (1982), Carol Clover (1993), Linda Williams (1996), Barbara Creed (1993), KierLa Janisse (2012) e outras pesquisadoras, que, sob diferentes enfoques, consideram o incômodo patriarcal em relação aos corpos das mulheres como tema central das narrativas de horror. A notável centralidade desses temas para os filmes de horror que começaram a ser feitos a partir de 1960 fez com que o gênero passasse a receber maior atenção dos estudos teóricos e críticos, aliando aspectos atraentes para abordagens de questões como a representação da ansiedade individual e social originada por eventos que escapam à normalidade (Humphries 2002, a construção de um tipo específico de prazer visual ligado a processos inconscientes (Mulvey 1983), a frequente apresentação da família nuclear burguesa em situações extremas e irreconciliáveis (Wood 1979), e o destaque para experiências de agressão e desorientação que remetem a práticas do cinema moderno (Burch 2011). E, para tal, buscaremos discutir como o espaço selvagem e inóspito de uma floresta da Nova Inglaterra – “lar” do chamado American Gothic – exerce um papel fundamental em A Bruxa

Um conto gótico americano
A Natureza como liberdade possível para o feminino

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