Abstract
A introdução da vacina contra o HPV no Brasil foi inicialmente bem recebida, registrando alta taxa de cobertura nacional durante o primeiro semestre de 2014. Apesar dos esforços do Ministério da Saúde, uma queda significativa em sua aceitação foi observada no semestre seguinte, cujos fatores ainda são objeto de investigação. Considerando a importância da mídia impressa, o objetivo deste estudo foi descrever as estratégias discursivas das narrativas veiculadas por ela, a fim de elucidar o seu papel no debate público durante a introdução da vacina contra o HPV, entre 2014 e 2018. A metodologia adotada consistiu em uma abordagem qualitativa, que incluiu a análise de discurso de matérias e textos publicados pela mídia impressa, bem como dos discursos de entidades de classe presentes em diversas reportagens jornalísticas. Além disso, considerou-se como fonte de análise uma ação pública impetrada pelo Ministério Público Federal contra a vacina do HPV, a qual recebeu ampla cobertura em diversos veículos de comunicação. Os resultados mostraram as estratégias discursivas de atores favoráveis e desfavoráveis à vacina. Conteúdos sobre a eficácia, a segurança e os custos econômicos dominaram o debate público, com cada lado trazendo a própria interpretação dos conhecimentos científicos acumulados. Porém, o debate da mídia não se aprofundou quanto aos aspectos controversos e críticos relativos à vacinação, mesmo diante da variedade de dados e evidências científicas disponíveis. Concluiu-se que a mídia não foi capaz de diferenciar ciência de pseudociência, transformou evidências científicas em opiniões e perdeu a chance de contribuir para a elucidação da eficácia e da segurança da estratégia de saúde pública.
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