Abstract

O artigo tem como objeto principal o curso de Michel Foucault no Collège de France, Subjectivité et vérité, ministrado em 1980-1981 e editado em 2014. Pretende-se mostrar de que maneira e mediante quais argumentos Foucault chega à afirmação de que a relação entre sujeito e verdade na experiência antiga dos aphrodisia é da ordem da incompatibilidade. Na pederastia grega os atos sexuais e seus prazeres foram considerados obstáculos para o acesso à verdade e para a constituição do sujeito ativo. No entanto, o confisco da experiência sexual legítima no interior da reconfiguração do matrimônio romano, bem como a suspeita crescente em torno dos atos e prazeres, provocaram dois processos: a subjetivação dos aphrodisia, o que resultou em uma relação constante do sujeito com sua experiência sexual; e a objetivação do desejo, no sentido de que ele deixa de ser somente um elemento intempestivo e incontrolável situado ao lado da natureza, passando a ser algo problemático e objeto de conhecimento. Ainda que na Introdução aos dois últimos livros de Histoire de la sexualité Foucault escreva que pretende fazer a história do homem de desejo na cultura pagã antiga, o artigo sugere que não é propriamente nessa formação histórica que pode ser identificada sua emergência, e sim no monaquismo cristão dos séculos IV e V, objeto de seu livro inacabado Les confessions de la chair. Pelo menos no domínio da experiência sexual, o homem de desejo não teria surgido na erótica masculina grega ou no matrimônio romano, mas na sexualidade solitária do monaquismo cristão.

Full Text
Published version (Free)

Talk to us

Join us for a 30 min session where you can share your feedback and ask us any queries you have

Schedule a call