Abstract

O artigo reúne alguns mitos de origem de diferentes tradições culturais que coexistem nos territórios amazônicos, em um esforço arqueológico que tem como objetivo amplificar a visibilidade das narrativas míticas enquanto potências criativas que manifestam a diversidade cultural que permeia a biodiversidade dos territórios amazônicos. A riqueza da biodiversidade amazônica é mundialmente valorizada, no entanto, pouco se reconhece que é resultado do modo de ser, pensar e agir no mundo dos diversos povos originários que coabitam e compõem os territórios amazônicos (NEVES, 2020). Tomando como base metodológica a noção de Multiplicação Dialógica (GUIMARÃES, 2022; 2021; 2020; 2017) que aponta para princípios de uma Psicologia Indígena implicada com a abertura para a diversidade, partimos da figura mitológica da cobra enquanto critério de recorte, operando uma multiplicação de sentidos desde diferentes perspectivas culturais que cada mito de origem manifesta. O trabalho explicita o contraste entre a perspectiva dos missionários e colonizadores com os povos originários e afro-diaspóricos. A figura mitológica da cobra é demonizada no mito bíblico do Gênesis enquanto origem do mal, pecado e traição, ao passo que, por sua vez, nos diferentes mitos de origem indígenas e afro-diaspóricos, aparecem outros sentidos possíveis, exaltando potências criativas e transformadoras, associada ao arco-íris que une céu e terra, a capacidade de trânsito entre diferentes pólos, bem como em rituais de cura (LINDOSO, 2007), associada também à Ayahuasca e a arte feminina do Kene, em seu potencial transformador de cura e percepção visionária (BELAUNDE, 2013; LAGROU, 2013); bem como à própria origem da vida em sua diversidade e dos rios que entrecortam os territórios amazônicos (PÃRÕKUMU & KËHÍRI, 1995; PACHECO, 2009).

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