A existência da obra XIV Variações sobre o tema de Xangô, de Almeida Prado, em duas versões (uma de 1961, para piano, e outra de 1998, para fagote e piano), e o depoimento do compositor de que cada variação se refere a um gênero do folclore brasileiro criam um cenário complexo de intertextualidade. Primeiramente, o artigo traz uma contextualização da obra nacionalista, obra esta que segue as instruções de Mário de Andrade e Mozart Camargo Guarnieri. Em seguida são abordados conceitos de intertextualidade que importam neste recorte de trabalho, entre outros, a bússola intertextual de Gabriel de Mesquita, e representamos em gráfico as quatro camadas de intertextualidade encontradas nessa obra. Durante a abordagem destas camadas, damos um enfoque na relação da variação IV com sua referência externa, o Ponteio n. 45 de Guarnieri. A análise comparativa dos dois intertextos, tanto nos seus parâmetros superficiais quanto profundos, mostra que eles se relacionam através de modelagem de perfil. A comparação das duas versões, escritas com uma distância de 37 anos, evidencia como a nova versão, mesmo mantendo o piano inalterado, ambienta a obra na fase pós-moderna do compositor. Por último, compilamos as tipologias de intertextualidade dentro da bússola intertextual e propomos uma reformulação da bússola bidimensional e sua ampliação para três dimensões, no intuito de incorporar nesta um novo conceito, a metaintertextualidade, a partir da relação sugerida pelas duas versões das XIV Variações de Almeida Prado.
Read full abstract