Em 2009, foram descobertos, em Lagos (Portugal), os esqueletos de 158 indivíduos inumados numa lixeira dos séculos XV–XVII. As condições de descarte dos indivíduos, o seu perfil biológico, as modificações intencionais dos seus dentes e o contexto histórico de Lagos suportam a hipótese de se ter tratado de escravos africanos. No presente estudo, pretendeuse avaliar a frequência de caracteres nãométricos nos esqueletos destes indivíduos, bem como diferenças entre sexos e lateralidades, de modo a identificar eventuais caracteres específicos desta amostra. Foram incluídos no estudo os 101 indivíduos adultos da coleção. Foram investigadas 29 variações anatómicas de oito pares de ossos do esqueleto pós-craniano (clavícula, escápula, úmero, rádio, ulna, fémur, patela e tíbia), das quais nove não foram encontradas. As restantes 20 foram registadas com frequências compreendidas entre 1,8% e 96,1%. Apenas um carácter (sulco costoclavicular) demonstrou diferenças significativas entre os dois sexos. As lateralidades revelaram-se diferentes em seis caracteres (chanfradura supraescapular, abertura septal, chanfradura troclear medial, fossa hipotrocanteriana, chanfradura do vasto external e faceta de agachamento lateral). Quando comparados com a literatura, os resultados obtidos não permitiram identificar qualquer carácter específico desta amostra populacional.
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