O presente ensaio, realizado com a var. bourbon de Coffea arabica, além de dar informações sôbre a produção dos cafeeiros protegidos dos insetos polinizadores, permitiu também averiguar o comportamento de várias espécies de abelhas e obter outras informações correlatas. Constatou-se, assim, que o néctar da flor é ainda abundante mesmo 24 horas após a antese e que o teor de açúcar do néctar é elevado, da ordem de 38%, em média. Apis mellifera foi a espécie mais freqüentemente encontrada coletando o néctar e o pólen. Em dias chuvosos, muitas das abelhas dessa espécie apenas coletam o pólen. Das abelhas indígenas, somente Plebéia sp. e Nannotrigona (Na.) testaceicomis e Melipona quadrifasciata foram encontradas colhendo o pólen. Com tempo bom, as abelhas visitam as flôres do café em grande número, tendo-se notado que A. mellifera ocorre com maior freqüência em horas próximas do meio dia, à temperatura de 30 a 32°C. As abelhas Plebeia sp. e N. (Na.) testaceicomis iniciam o vôo mais tarde que a A. mellifera. Em observações realizadas no decurso de 24 horas verificou-se que uma abelha européia trabalhou num território de 13m x 6m, enquanto outras abelhas marcadas não foram vistas novamente. As observações feitas indicaram também que as abelhas grandes, como A. mellifera e Melipona quadrifasciata, são mais eficientes do que as pequenas como polinizadoras do cafeeiro. Em flores mais velhas, com a base da corola já desprendida, encontraram-se as abelhas menores, lambendo diretamente os nectários. As espécies de meliponíneos Plebeia sp., Tetragona (Tetragonisca) jaty, N. (Na.) testaceicomis e Trigona (Trigona) ruficrus, foram vistas muitas vêzes alcançando os nectários através de cortes feitos na base das corolas por Trigona (Trigona) hyalinata. Observações adicionais mostraram que as abelhas M. quadrifasciata e Cephalotrigona capitata, bem como A. mellifera, dão preferência as flôres de exemplares oriundos de Coffea Dewevrei, que são maiores do que as do café Bourbon e têm perfume mais intenso. Apesar da ocorrência dos insetos colhendo néctar e pólen, os dados de produção de café cereja não mostraram diferenças significativas entre as plantas protegidas e sem proteção. Notou-se apenas uma tendência, em cinco dos seis anos analisados, de serem maiores as produções das plantas sem proteção e, portanto, visitadas por insetos. Os dados de frutificação obtidos indicaram, também, melhor pegamento dos frutos nas plantas sem proteção. Nestes cafeeiros as porcentagens de sementes moca mostraram-se significativamente maiores, enquanto as porcentagens de sementes concha, embora também maiores, não se mostraram significativas. A quantidade de frutos com lojas sem sementes e o tamanho das sementes não diferiram nos dois tratamentos. A influência das abelhas na polinização do cafeeiro deve, pois, ser pràticamente limitada às espécies autoestéreis de Coffea. Os dados aqui obtidos indicam que o papel desempenhado pelos insetos em promover maior polinização e aumento de produção dos cafeeiros da var. bourbon, é de importância secundária.