A psicanálise sempre precisou da arte, em especial da literatura, mas também, das artes plásticas e cênicas para revelar o que a teoria não consegue ver, por representar as estruturas e procedimentos do funcionamento psíquico e social. Nestes termos, Lacan vai ler este amor primordial, que é o amor pela própria imagem, sob o signo do mito de Narciso, assim como o amor transferencial, tematizado por Freud, será conjugado sob o signo do Banquete, seja como suposição de saber, que nada sabe além do desejo de Alcebíades por Agatão, seja como discurso do mestre, por alocar o amor philia no lugar do agalmasedutório. A psicanálise, também vai abordar o amor trágico a partir da lição de Antígona, aquela que deu até aquilo que não tinha, em nome da dignidade humana. Já o amor-paixão será articulado sob a rubrica do bovarismo, expressão romântica de uma aspiração amorosa que, em malogro, vai desembocar na melancolia, como antessala da morte. O amor cômico, na pena de Molière, será o amor que rebaixa o Outro, justamente para que o sujeito não se obrigue a morrer de amor. O amor ao pensamento será articulado nos termos daquele que ama o próprio amor, cujo modelo será o amor cortês provençal. Enfim, no derradeiro Lacan, será o amor de Beatriz que iluminará o caminho sublimatório de Dante em direção à significação vazia do amor eterno. Por tudo isto Lacan irá nos lembrar, em sua homenagem a Marguerite Duras, que o artista sempre irá preceder o psicanalista nos trilhamentos do inaudito, tanto no que se refere ao saber, quanto ao amor...
Read full abstract