Abstract

Este trabalho reflete sobre um conjunto de referências teóricas e literárias que consideramos úteis para uma abordagem à narração oral enquanto possibilidade poética e forma artística no cenário cultural contemporâneo. Para a escolha dessas referências, todas clássicas em diferentes campos de estudos narrativos, pautamo-nos pela sua possível pertinência em relação aos debates em circulação em alguns dos contextos empíricos onde se estuda e conta histórias, hoje, no Brasil. Indicamos, assim, a importância dos conceitos de arte verbal e performance (Richard Bauman e Paul Zumthor), da relação entre narrativa e memória cultural (Lyotard) e da abertura à emergência de novas narratividades, sugerida por Ricoeur, Kearney, Didi-Huberman e Gagnebin a partir de suas leituras do clássico ensaio "O Narrador", de Walter Benjamin. Buscando contribuir para valorizar práticas como o contar histórias, cuja presença nas escolas e em outros espaços culturais brasileiros é crescente, e apoiar a constituição de parâmetros de pesquisa ético-estética cada vez mais elevados nesse campo, conclui-se afirmando a singularidade do papel da narração oral nas mediações exigidas pela complexa teia cultural contemporânea.

Highlights

  • This article reflects on a group of theoretical and literary references that we consider useful to an approach to oral narration as a poetic possibility and artistic form in the contemporary cultural scene

  • E, após várias décadas vivendo esse contexto, podemos sem dúvida concordar com Jean em que a arte, a imaginação e a poesia são nossos maiores aliados no processo de invenção de nós mesmos

  • Assim, procura sugerir ou relembrar nexos entre alguns dos desafios que as asperezas do cenário contemporâneo colocam a todos nós, professores, e esse recurso tão singelo e primordial do encontro humano: o poder poético da palavra falada

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Summary

O FAZER POÉTICO DAS HISTÓRIAS

A grande missão da poesia, já dizia Aristóteles, era fabricar o que poderia ter acontecido, ou, em outras palavras, imaginar histórias[3]. O fazer narrativo é indissociável do acervo imaginário da cultura, do "repertório do potencial, do hipotético, de tudo quanto não é, nem foi e talvez não seja, mas que poderia ter sido" (CALVINO,1990, p.106). Esse acervo é frequentemente descrito como um reservatório de histórias em estado "líquido", como um "mar de histórias", uma metáfora na qual entram em jogo noções como profundidade, transformação e intermediação entre diferentes universos de significação: entre água e ar, entre imagem e palavra, entre imaginação e narrativa. Esse potencial é dinâmico; em um trecho do livro, o menino-protagonista fica receoso de que a turbulência causada na água do mar-dos-fios-de-histórias pelo pássaro-gigante que o carrega velozmente nas costas possa atrapalhar as histórias, mas um de seus companheiros responde que não há problema: "Qualquer história digna de ser contada aguenta bem uns sacolejos!" Esta é outra imagem que nos parece muito lúcida para compreender o papel da narração oral no mundo de hoje, por valorizar o papel de uma criação autoral marcada ao mesmo tempo pela independência e agilidade do impulso individual e pela inserção rizomática no imaginário coletivo

A PERSISTÊNCIA DA NARRATIVA
ALINHAVOS FINAIS
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