Abstract

Introdução: As fístulas uro-rectais (FUR) constituem uma complicação devastadora do tratamento de tumores pélvicos e um desafio cirúrgico para o cirurgião reconstrutivo. Contudo, apesar da sua crescente incidência associada a uma utilização cada vez mais frequente das diferentes modalidades não-cirúrgicas, especialmente de radioterapia, com ou sem cirurgia, para o tratamento de tumores pélvicos, a fístula urorectal permanece relativamente rara. Dada a elevada improbabilidade do encerramento espontâneo da fístula uro-rectal, a correcção cirúrgica torna-se necessária na quase totalidade dos casos. Apesar da existência de várias técnicas cirúrgicas, as taxas de falência/recorrência são habitualmente elevadas, particularmente em fístulas rádicas. Descrevemos neste estudo a nossa experiência limitada no tratamento de fístulas urorectais resultantes de tratamentos de tumores pélvicos (aparelho urinário inferior e recto).
 Métodos: Entre Outubro de 2008 e Fevereiro de 2015, foram identificados 12 pacientes do sexo masculino com fístula urorectal e tratados nas nossas instituições. Foi efectuada revisão dos processos clínicos dos pacientes, incluindo a idade, sintomas, presença de comorbilidades, marcha diagnóstica, tipo e etiologia da fístula, tipo de reconstrução cirúrgica, follow-up e resultados. Foram excluídos do estudo todos os pacientes com fístula não-neoplásica/inflamatória.
 Resultados: Foram identificados e tratados 12 pacientes nas nossas instituições. Um dos pacientes, após ressecção anterior do recto, desenvolveu metástases ganglionares e hepáticas 4 meses após o diagnóstico da fístula urorectal, durante tratamento médico/antibiótico de abcesso pélvico e sua resolução após drenagem e, consequentemente, foi excluído do tratamento cirúrgico e do estudo. A idade média dos doentes era de 68 anos (53 – 78). Nove pacientes desenvolveram fístula uro-rectal após terapêutica de carcinoma da próstata): Dois após braquiterapia de baixa dosagem combinada com radioterapia externa; cinco após prostatectomia radical retropúbica (PRR), com radioterapia externa adjuvante em um; um após braquiterapia de baixa dosagem seguida de ressecção transuretral por obstrução prostática; e um após ultra-som focalizado de alta intensidade e radioterapia externa. Em dois pacientes, a fístula resultou de tratamento cirúrgico de carcinoma rectal, associado a radioterapia externa em um deles. Foi efectuada em todos os pacientes derivação fecal com colostomia e derivação urinária, ou com cateterização suprapúbica, ou com cateterização uretral durante o período de espera para a reconstrução cirúrgica. Não houve encerramento espontâneo de fístula urorectal em nenhum paciente. Onze pacientes foram submetidos a reconstrução cirúrgica. Foi utilizada abordagem exclusivamente perineal em sete doentes e abdominoperineal em quatro. Obteve-se encerramento eficaz da fístula em seis pacientes à primeira tentativa cirúrgica, dois doentes necessitaram uma segunda tentativa, enquanto que em um doente foram necessárias três tentativas cirúrgicas (duas delas em outras instituições) de forma a atingir um resultado com sucesso. Ocorreu falência cirúrgica em dois doentes, os quais, actualmente, não desejam qualquer tentativa reconstrutiva adicional. Estes dois doentes e um doente, em quem a reconstrução foi eficaz, permanecem ainda com colostomia. O tempo médio de follow-up foi de 25,5 meses (3-75).
 Conclusão: As fístulas uro-rectais são uma complicação pouco frequente, mas devastadora, do tratamento dos tumores pélvicos, habitualmente associada com morbilidade debilitante e degradação da qualidade de vida. Embora a sua reconstrução cirúrgica possa ser extremamente difícil, ela é possível com sucesso na maioria dos casos através de uma abordagem perineal ou abdominoperineal agressiva e interposição de tecidos, quando indicada.

Full Text
Published version (Free)

Talk to us

Join us for a 30 min session where you can share your feedback and ask us any queries you have

Schedule a call