Abstract

A teoria ética das virtudes é o modelo mais antigo de filosofia moral, mas a partir do Renascimento foi relegada para segundo plano com o surgimento da ética kantiana do dever e do consequencialismo de Bentham e Mill. No âmbito da saúde, as teorias éticas centradas na virtude e no caráter continuaram a ser preponderantes até aos anos 70 do século passado, quando surgiu a bioética como uma nova área do saber, que procura refletir sobre as implicações éticas resultantes dos progressos científicos e tecnológicos na vida humana e animal, e no ambiente. Assistiu-se a uma mudança de paradigma na ética dos cuidados de saúde, de um modelo baseado na virtude e na inviolabilidade da vida humana, expresso no Juramento de Hipócrates, para um modelo cimentado na autonomia e qualidade de vida do paciente, para o que contribuiu a proposta da metodologia principialista de Beauchamp e Childress e da crescente influência do utilitarismo nas comissões de ética. Nos últimos anos, tem havido um interesse renovado pelas teorias éticas da virtude devido ao contributo de pensadores como Elizabeth Anscombe, Alasdair MacIntyre e Edmund D. Pellegrino. Foi realizada uma revisão sobre a teoria ética das virtudes a partir das obras de Edmund D. Pellegrino e David C. Thomasma, pioneiros da bioética e dos principais promotores da ética das virtudes na prática clínica, bem como após pesquisa do tema nas bases de dados NCBI/PubMed (National Center for Biotechnology Information) e SciELO (Scientific Eletronic Library Online). Após uma apresentação da história do conceito filosófico de virtude e dos aspetos mais representativos da teoria ética das virtudes, são destacadas oito virtudes particularmente relevantes para a atividade clínica: a fidelidade à promessa, a compaixão, a prudência, a justiça, a coragem, a moderação, a integridade e o altruísmo. Estas e outras virtudes são, em nossa opinião, essenciais para uma prática médica mais humanizada que tenha em conta o bem do paciente, e contribuirão também para contrabalançar a hegemonia do principialismo e de teorias éticas que desvalorizem o papel central do agente no debate bioético atual.

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