Abstract

Em "Teoria da vanguarda", de Peter Bürger, o choque é compreendido como o artifício intencional dos movimentos de vanguarda contra a autonomia do esteticismo modernista, a fim de devolver a arte à práxis vital. Adotando uma perspectiva distinta, o choque, para Adorno, expõe antes a crise da experiência da formalização do tempo decorrente da incongruência entre as forças produtivas e as relações de produção na sociedade industrial, sendo que dois caminhos artísticos distintos derivam da inflexão histórica da crise da experiência. Em Schoenberg, na esteira do que Bürger classificaria como esteticismo, o choque seria amortizado pela expansão da linguagem musical, mediante seu registro. Em Stravinsky, o procedimento mecânico de golpes rítmicos e de montagem, em consonância com a profusão de vivências do choque, surge como elemento regressivo. Os choques não seriam dispositivos críticos, mas sismogramas de reações às mudanças da consciência subjetiva do tempo na modernidade. O artigo procura enfatizar as premissas conflitantes entre Bürger e Adorno quanto à posição do conceito de choque, assim como as críticas de Bürger ao modernismo adorniano.

Highlights

  • Em “Teoria da vanguarda” (1974), Peter Bürger associa o conceito de choque (Schock) ao “mais elevado princípio da intenção artística da vanguarda”.1 A obra de arte vanguardista, em sua denegação de sentido imposta ao receptor, representaria uma reação concreta ao princípio de autonomia que prevalecia no quadro institucional das artes no final do século XIX

  • In Peter Bürger’s “Theory of the avant-garde”, the concept of shock is rendered as an intentional avant-garde procedure against the institutionalization of art, i.e., against the autonomous criteria of modernist aestheticism, with the purpose of bringing art back to everyday life and vital praxis

  • This paper aims to point out the conflicting assumptions and consequences between Adorno and Bürger regarding their respective theoretical grasps on the concept of shock, as well as the critique to Adorno’s musical modernism that Bürger addresses in this book

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Summary

Choque em “Teoria da vanguarda”

Em “Teoria da vanguarda” (1974), Peter Bürger associa o conceito de choque (Schock) ao “mais elevado princípio da intenção artística da vanguarda”.1 A obra de arte vanguardista, em sua denegação de sentido imposta ao receptor, representaria uma reação concreta ao princípio de autonomia que prevalecia no quadro institucional das artes no final do século XIX. Somente a análise da função social da arte, apoiada na centralidade da categoria de instituição arte, permitiria a distinção não ideológica entre o projeto do esteticismo modernista e aquele intencionado pelas vanguardas; tal distinção teria escapado, como vimos, à interpretação adorniana, que simplesmente dilui os movimentos de vanguarda a excursos do projeto modernista. O ataque dirigido pelos movimentos de vanguarda contra o estatuto de autonomia da arte [...] só pode ser interpretado por Adorno como falsa superação da aparência (Schein) estética, e não como o lugar histórico de uma mudança radical (Umbruch) que permitiria pensar as contradições da arte no interior da sociedade burguesa.[14].

Choque e dissociação do tempo em “Filosofia da nova música”
Críticas de Bürger a Adorno: incompatibilidade entre as concepções de choque
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