Abstract

Os debates acadêmicos sobre a secularização e o secularismo atingiram um impasse infecundo. Os teóricos ortodoxos ou neo-ortodoxos da secularização insistem na universalidade epistemológica e na aplicabilidade universal de conceitos mais ou menos uniformes de secularização. Por contraste, as críticas pós-coloniais procuraram provincianizar a noção de secular, enfatizando sua origem ocidental e sua coimplicação com o Estado-nação, a violência e o colonialismo. Neste artigo, ocupamo-nos criticamente dessas abordagens e sugerimos, como perspectiva alternativa, o conceito de “secularidades múltiplas”. Se, por um lado, as abordagens universalista e pós-colonial tendem a dar forma e essência ao secular, nós pretendemos, por outro lado, historicizar e culturalizar a secularidade. Fazemo-lo argumentando que a secularidade se sustenta cultural e simbolicamente em formas de distinção entre as esferas e as práticas sociais religiosas e não religiosas e que as institucionalizações dessas distinções serviram como modo de lidar com diferentes problemas. Não obstante reconheça as historicidades particulares da secularidade, nossa conceptualização liberta-a, de forma significativa, de suas associações singulares ao Ocidente e à modernidade.

Highlights

  • Os debates acadêmicos sobre a secularização e o secularismo atingiram um impasse infecundo

  • Parece coerente concluir que as distinções entre secular e religioso são estranhas aos contextos não europeus e apoiar noções holísticas do islamismo ou hinduísmo como modos de vida

  • Essa compreensão analítica não nos impede de analisar a normatividade empírica de tal delimitação de fronteira

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Summary

Clarificações conceituais

Os conceitos dominantes no atual debate internacional são secularização e secularismo. Enquanto o conceito de secularização é usado principalmente em modelos de processo sociológico, abordando a diferenciação funcional, o declínio religioso e a privatização da prática religiosa, o secularismo refere-se aos arranjos institucionais da separação política/Estado e religião, bem como às suas legitimações ideológicas. O conceito de secularidade é mais inclusivo do que o de secularismo, englobando também as formas dadas como adquiridas, e por vezes latentes, de distinção entre o religioso e o não religioso. A distinção analítica entre ideologias da separação e práticas de diferenciação também ilumina as experiências pré-modernas que oferecem recursos intelectuais, abrindo, assim, caminho para formas modernas de secularidade (BHARGAVA, 2010; KLEINE, 2013b) que não estão mais associadas necessariamente a ideias guiadoras seculares

Caminhos de secularização e variedades de secularismo: tipologias existentes
Das modernidades às secularidades múltiplas
Algumas considerações sobre o uso dos tipos ideais
Secularidades múltiplas: problemas e soluções
Conclusões: explicando as hegemonias seculares
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