Abstract

Nietzsche é considerado figura de vital importância na crítica a certa “inflação do sentido” verificada no pensamento ocidental, tanto no que diz respeito à tradição filosófica quanto no que concerne ao Cristianismo. Esse caráter tirânico do sentido fortaleceu sua crítica que, em geral, conclui que todo sentido deriva do fenômeno, que é a representação subjetiva e interpretativa do mundo. Mesmo que não tenha sido a intenção de Nietzsche, suas reflexões ensejaram novos parâmetros para a compreensão da religião em bases não metafísicas. Por outro lado, temos o escritor Jorge Luis Borges, que parece aquiescer à crítica nietzschiana da assimetria entre mundo e linguagem. O escritor argentino relativiza a relação direta entre linguagem e mundo, o que coloca os limites da metáfora em um lugar de importância significativa. Além de uma aproximação criativa entre o filósofo alemão e o escritor argentino, destacamos a percepção borgeana da realocação de conteúdos metafísicos envelhecidos para o universo ficcional e criativo da literatura fantástica. Nesse sentido, a partir das teorias da linguagem, devedoras que são dessa tradição que remonta a Nietzsche, o presente artigo propõe uma compreensão da religião a partir do conto A Escrita do Deus, de Borges.

Highlights

  • Nietzsche is considered a figure of vital importance in criticizing a certain "inflation of meaning" found in Western thought, both in the philosophical tradition and in what concerns Christianity

  • Independentemente se há algo ou alguém para além da linguagem em torno do qual as pessoas se reúnem e prestam culto, é inevitável que essas experiências sejam mediadas pela linguagem

  • Uma primeira aproximação ao texto A Escrita do Deus seria a partir do seu gênero literário8

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Summary

Crítica ao impulso tirânico do sentido

Wilhelm Friedrich Nietzsche é considerado um dos mais implacáveis críticos da tradição ocidental, representada principalmente pela Filosofia e pelo Cristianismo. Schopenhauer se utiliza de duas expressões kantianas — a “coisa-em si” (o mundo em si mesmo) e o “fenômeno” (o mundo tal como conhecido pelo ser humano) —, a partir das quais pressupõe que toda ordenação do mundo e seu significado são criações humanas, já que, para ele, o mundo-em-si é sem sentido e nele grassa a desordem. Própria da manutenção da vida, se dá como esforço interpretativo que produz novos sentidos, interpretação essa que se constrói sempre a partir de uma perspectiva, sem a qual é impossível conhecer o mundo: “[...] toda a vida repousa sobre a aparência, a arte, a ilusão, a óptica, a necessidade do perspectivístico e do erro” Própria da manutenção da vida, se dá como esforço interpretativo que produz novos sentidos, interpretação essa que se constrói sempre a partir de uma perspectiva, sem a qual é impossível conhecer o mundo: “[...] toda a vida repousa sobre a aparência, a arte, a ilusão, a óptica, a necessidade do perspectivístico e do erro” (NIETZSCHE, 2003, §5, p. 19.)

Mundo e linguagem: uma aproximação de Nietzsche e Borges
Linguagem e religião
Uma leitura da religião na “Escrita do Deus” de Jorge Luis Borges
O gênero fantástico
O enredo da Escrita do Deus
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