Abstract

Este artigo analisa de que modo, a partir da posição de Wittgenstein em relação à ética, não é possível derivar uma postura não-cognitivista como pretende, por exemplo, o quase-realismo de Simon Blackburn. Primeiramente, reconstruímos as consequências da interpretação a respeito da existência de proposições morais para, posteriormente, sustentar que há um equívoco no modo de compreender a dicotomia entre fatos e valores. E, por último, mostramos que o filósofo vienense recusa, por um lado, uma visão platônica sobre as regras e, por outro, a tese de que não há regras objetivas. As regras são expressão intersubjetiva compartilhada pela forma de vida, argumento diametralmente oposto ao não-cognitivismo quase-realista de Blackburn.

Highlights

  • “Ou seja, a ideia é a de estarmos presos numa perspectiva estática, incapazes de apreciar que os objetos de nossa crença também podem ser vistos de outras maneiras, através de diferentes subjetividades

  • Caso a posição anterior seja verdadeira, então, por exemplo, não poderíamos conceber as verdades matemáticas e lógicas como exemplos de “objetividade sem objetos” (WITTGENSTEIN, 1956)

  • Dominar uma técnica, seguir uma ordem, compreender um sentimento não são apenas processos automáticos, como infere o quase-realismo, pois “‘seguir a regra’ é uma práxis.” (IF, § 202), isto é, um modo coordenado que nutre-se, fundamentalmente, da não dicotomia entre fatos e valores

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Summary

Introdução

Este artigo analisa de que modo, a partir da posição tractatiana de Wittgenstein em relação à ética (TLP1 §6.4; §6.41; §6.42; §6.421; §6.422) não é possível derivar uma postura não-cognitivista como pretende o quase-realismo de Simon Blackburn (1993; 2006). Mesmo que a imbricação entre fatos e valores constitua uma espécie de enxerto necessário para algo ser cognitivamente significativo, a ideia de que a descrição correta do mundo seja a mesma coisa que “objetividade” apenas presume a existência de verdades normativas – e este erro categórico expande ainda mais a questão. Não-cognitivistas como Blackburn procuram dividir os conceitos éticos num “componente de significado descritivo” e num “componente de significado prescritivo”, para os quais toda a ideia de propriedades de valor deve estar equivocada, uma vez que é possível isolar determinada característica autêntica do mundo independentemente da experiência particular (MEDEIROS, 2018). Seguir uma regra não determina nenhum conteúdo objetivo, nenhuma concordância determinada sobre um fato, expondo o argumento de que elas devem ser entendidas apenas como aprovações ou reprovações das projeções feitas sobre o mundo. A tese de Blackburn é que as regras não são expressão de um conteúdo objetivo, mas um modo consensualista de organizar nossas projeções sobre o mundo

Repensando a natureza automática de “seguir uma regra”
Considerações Finais

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