Abstract

Esta tese tem como objetivo geral promover um estudo enunciativo do samba de raiz enquanto experiencia do sujeito sobrevivente a cultura brasileira. Com base na teoria enunciativa de Emile Benveniste, demarcamos um itinerario de leitura que preve a indissociabilidade entre lingua, cultura e sociedade. O problema de pesquisa que visamos a responder e o seguinte: como o samba de raiz constitui um enunciador que e testemunha? Desse questionamento construimos tres hipoteses, a saber: as condicoes enunciativas no cenario plurietnico da Pequena Africa promoveram discursos os quais garantiram ao samba um lugar na cultura brasileira; o sujeito que se constitui no discurso do samba de raiz produz uma figura que e superstes; a lingua, quando enunciada, produz o testemunho do samba de raiz. Em primeiro momento, contextualizamos o nosso objeto de estudo, descrevendo, a partir de uma concepcao semiologica da lingua, a sociedade particular referente a raiz do samba quando de suas primeiras manifestacoes no Rio de Janeiro, mais precisamente na Pequena Africa, espaco este que abrange todo um conjunto simbolico de representacoes intrinsecas a cultura do samba, criando enunciacoes que refletem esses valores na e pela lingua. Na sequencia, considerando nosso problema de pesquisa, olhamos para o sujeito que se constitui no discurso a partir de Giorgio Agamben (2008) e construimos uma reflexao que abrange a nocao de testemunha peculiar ate a construcao teorica de um sujeito da enunciacao em Benveniste. Isso porque, ao defendermos que o samba agoniza, mas nao morre, porque constroi um sujeito que e testemunha do lugar que o samba de raiz ocupa na sociedade brasileira, essa figura construida na e pela linguagem carrega as marcas de um sobrevivente - no sentido de Agamben (2008). O terceiro momento e dedicado a teoria enunciativa de Benveniste, cuja leitura esta amparada no texto Estrutura da lingua e estrutura da sociedade (BENVENISTE, 1968c/2006). A partir da tese nele apresentada, a de que a lingua contem a sociedade, e considerando que o dispoe apenas de um meio para viver o presente que e o discurso, entendemos que o colocar em funcionamento a lingua por um ato individual pressupoe um saber sobre o na linguagem que se constroi fundamentalmente na relacao entre lingua, cultura e sociedade. E assim que o caminho desta tese esta estruturalmente organizado: pela triade sociedade - homem/sujeito - lingua(gem). Delimitado o objeto de analise e apresentados os constructos teoricos desta tese, procedemos a analise enunciativa do samba de raiz, para mostrar como a lingua faz falar um sujeito que e sobrevivente. O trajeto percorrido evidencia que: o samba nasce marginal, sua testemunha por excelencia e o descendente de escravo, que significa o estrangeiro, e um homem sem direitos e encontra-se do lado de fora do desenvolvimento da comunidade (BENVENISTE, 1995a) e, assim, fora da lingua. Hilario Jovino Ferreira, Ze Espinguela, Caninha, Sinho, Joao da Baiana, Donga, Pixinguinha, Candeia, Ismael Silva, entre tantos outros se colocam como superstes, ou seja, atravessaram desde o inicio a consolidacao do samba no Brasil. Seus testemunhos permanecem em outras vozes, em outros tempos. Isso porque a lingua de seus testemunhos, quando enunciada, revela os valores que garantem ao samba um lugar na cultura brasileira. Seus testemunhos carregam uma relacao paradoxal da constituicao do sujeito enunciativo: o valor etico da testemunha integral da raiz do samba que se reinventa a cada acontecimento da linguagem pela possibilidade instituida na e pela lingua.

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