Abstract

O presente trabalho aborda especialmente a formação de professores kaingang no sul do Brasil. Sustentado metodologicamente em uma perspectiva cartográfica, o estudo visa mostrar um movimento histórico que, aos poucos, rompe com as práticas de dominação e tutela impostas aos povos originários. Inauguradas pela colonização portuguesa, práticas de dominação se estenderam e aprofundaram ao longo do período colonial e, principalmente no século XX, em que o Estado brasileiro criou mecanismos mais eficazes para a integração do indígena à sociedade nacional, entre eles a educação escolar. Embora o processo de dominação/subordinação tenha causado danos à existência autônoma de cada povo indígena, mostramos também que houve um forte, por vezes silencioso, processo de re-existência, que se torna mais evidente e retumbante nas últimas duas décadas do século XX e nos anos 2000. Registros documentais e estudos historiográficos analisados evidenciam os movimentos tímidos e pontuais do Estado, muitas vezes em consonância com ordens religiosas, na formação de professores Kaingang para as escolas criadas nas Terras Indígenas. Mudanças ocorrem a partir da Constituição Federal de 1988, abolindo oficialmente a tutela e a educação escolar integracionista e amparando legalmente as lutas indígenas por uma escola diferenciada, com professores pertencentes a seus povos. Em decorrência, observa-se uma atuação indígena protagonista e autônoma, que rompe com as práticas tutelares implementadas em contextos de dominação/submissão, criando caminhos para a autonomia no que tange à educação escolar diferenciada e à formação e atuação dos professores indígenas.

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