Abstract

Este texto apresenta três gestos de pesquisa (ampliar, desmontar e desviar) que realizamos no arquivo fotográfico do Laboratório de Fotodocumentação Sylvio de Vasconcellos, a fim de evidenciar aspectos que instituem um campo de debates em torno da cidade, da técnica e do cotidiano. Operamos com fontes provenientes do Serviço de Fotodocumentação da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais, majoritariamente dos anos de 1954 a 1964. Os gestos de pesquisa, enquanto poéticas, experimentam modos de “fazer o arquivo falar”. E provocam ruídos quando colocam em discussão a vida ordinária capturada por meio da fotografia e as implicações dessa mediação técnica na prática da cidade e na construção de representações e discursos. Ao perfurarem o dispositivo do arquivo patrimonial e incidirem na trama histórica em torno do popular, esses gestos vislumbram atualizações críticas em torno do descarte e são também práticas urbanas na medida em que instauram outros modos de ver a cidade (ou des-vê-la, nos termos de Manoel de Barros e Rita Velloso).

Highlights

  • POÉTICAS DE ARQUIVO COMO PRÁTICAS URBANAS: TRÊS GESTOS DE PESQUISA NO ARQUIVO DO LABORATÓRIO DE FOTODOCUMENTAÇÃO SYLVIO DE VASCONCELLOS1

  • Cada gesto ou poética de arquivo, enquanto formas de indagação (FARGE 2017, p. 19), emitiu diferentes ruídos, dentre os quais interessam, para este trabalho, aqueles que colocam em discussão a vida ordinária capturada por meio da técnica fotográfica como prática urbana e as implicações dessa mediação técnica na compreensão da cidade

  • Arrisco ampliar o conceito de práticas urbanas (CERTEAU, 2009, p. 159) para incorporar os próprios gestos de pesquisa realizados, entendendo-os como práticas que instauram a cidade, ao reconfigurarem nossa compreensão do urbano, dos hábitos e dos modos a ele relacionados

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Summary

Prolegômenos de uma pesquisa em arquivo

No Brasil, as décadas de 1980 e, principalmente, de 1990 foram marcadas por uma virada historiográfica no campo da arquitetura e do urbanismo, proporcionada, entre outros fatores, pelo incremento de pesquisas em arquivos, renovando fontes e documentos (COSTA, 2017a, p. 261). Ao ampliar o olhar sobre o uso de fontes ou documentos visuais para além da dimensão historiográfica, identifico ainda uma série de pesquisas que proporcionam renovações no campo teórico da arquitetura e do urbanismo, em diálogo com o campo da fotografia e das artes. 2. Poéticas de arquivo enquanto práticas urbanas Colocar-se diante de um arquivo fotográfico, ora como fonte para a construção de uma narrativa, ora como o próprio objeto de investigação – no campo da arquitetura e do urbanismo –, implica explorar, segundo a abordagem que aqui construímos, no mínimo duas dimensões disciplinares: aquela da historiografia do urbano e aquela da estética. Argumento que são práticas urbanas, ao considerar que a dimensão urbana não se restringe às atividades da esfera pública; e que pequenos gestos, sobreviventes à luz fria de uma sala de climatização, ao serem narrados, colocam em movimento cidade, sujeitos, hábitos e modos de vida

Ampliar: gestos urbanos4 na coleção de diapositivos
Desviar: os catadores e eu9
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