Abstract

Populismo e populista são denominações que, ao mesmo tempo, são mal definidas – até indefiníveis – e cuja enunciação é, no entanto, eficiente. O argumento inicial deste estudo consiste em uma inversão dessa relação: é justamente por essa indeterminação que a enunciação é eficiente. A dificuldade de uma definição estável de populismo é uma consequência direta da transformação contemporânea do actante coletivo, ao qual chamamos povo, que é, ele próprio, hoje em dia, indeterminado, flutuante e heterogêneo. Um dos desdobramentos dessa situação consiste em reivindicar a denominação populista, porque essa reivindicação pública é uma legitimação tant da existência de um actante coletivo chamado povo quanto da coerência de temas e posições políticos associados. Assim, circunscrevemos o problema a ser tratado: por um lado, atribuímos ao populismo temas e posições políticos que não lhe são específicos e, por outro, associamos o populismo a paixões tristes (desconfiança, rejeição ao outro, sofrimento, ódio, medo...). Segundo pesquisas de opinião pública, tais paixões são compartilhadas pela maioria dos cidadãos, muito além apenas daqueles que votam nos candidatos populistas. Nossa hipótese é, então, que, no caso do voto e da expressão política populistas, essas paixões chamadas tristes funcionam como atratores dos temas e posições políticos associados ao populismo

Highlights

  • Para esclarecer um pouco o problema a circunscrever, tomemos outro exemplo, menos enigmático, antes de chegar ao cerne de nosso assunto: aquilo que se designa hoje a mobilidade

  • nevertheless efficient. The initial argument of this study consists of an inversion of this relationship

  • The difficulty of a stable definition of populism is a direct consequence of the contemporary transformation of the collective actant

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Summary

Preâmbulo: o populismo pode denominar uma proposta científica de pesquisa?

Quando uma pesquisa é realizada a partir de um problema ou de uma área já fortemente marcada e superutilizada pela mídia e pelo discurso político, Jacques Fontanille Tradução para o português e revisão: Jacques Fontanille, Kati Caetano e Fernando Moreira a primeira dificuldade a surgir é, precisamente, encontrar o termo, na língua, que a classifique mais adequadamente. A dificuldade em definir o populismo, portanto, não apenas opõe uma resistência ao método de análise, mas também remete à questão da maneira de se abordar o fenômeno: a palavra «populismo» e sua própria colocação em discurso trazem, em si, um questionamento a essa problemática. É claro que os estudos de teorias políticas e a análise de discursos estão engajadas em um processo crítico de desconstrução e vigilância ideológica, mas não têm, com relação a essa noção, um verdadeiro projeto coletivo de modelagem que visaria, por exemplo, como as Ciências Econômicas a uma mobilidade, a uma gestão global com vistas à expansão e à consecução de objetivos econômicos, sociais ou de outra natureza, ou mesmo ao contrário. Se não impossível, pode se tornar um problema semiótico específico

O indizível núcleo atrator
Da proliferação de expressões ao esvaziamento de conteúdo
O grande levante
Reivindicar populismo: assumir para legitimar
Sim, não, Sim !
Um blog
Quando as elites reivindicam seu populismo
Enunciar e reivindicar é encarnar
Paixões e práticas eleitorais
Concluir semioticamente
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