Abstract

Tradicionalmente a história do Brasil se conta do ponto de vista europeu colonizador, mais especificamente, da perspectiva do português, e a questão linguística desempenha importante função no modo como a brasilidade pôde e pode ser significada. Neste artigo, o objetivo é demonstrar como a escrita instaura uma arena de sentidos determinante para os discursos constitutivos do senso de vernáculo no e do Brasil. Para isso, foram selecionados dois documentos flagrantes da tensão estabelecida pela política linguística da Coroa Portuguesa: a) a Carta Régia declarando guerra contra os índios chamados botocudos e b) um texto editorial publicado no Correio Braziliense sobre tal Carta. A análise desses documentos destaca dois pontos fundamentais para a possibilidade de construção vernacular: 1) a política linguística portuguesa impôs uma ordem letrada e o saber por ela e nela referendado em detrimento da ordem regida pela oralidade e o saber por ela e nela valorado; 2) a escrita corroborava simultaneamente o valor e a reacentuação do valor da língua portuguesa no funcionamento cultural que se instituía, sendo instrumento de afirmação e questionamento de ideologias linguísticas. Assim, a escrita no Brasil mobilizou campos discursivos reguladores da relação entre língua e sociedade decisiva para a historicização do país.

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