Abstract

Nas obras literárias de escritoras italianas de origem africana evidenciam-se ao menos dois escopos: denunciar o racismo em todas as suas nuances e mostrar que o contato com culturas imigrantes enriquece as sociedades italianas. Neste trabalho abordo ambos, especialmente o primeiro. Através de personagens com características e vivências de suas próprias autoras ou de imigrantes da diáspora africana na Itália, revelam-se diversos tipos de racismo, que convocam a investigação em vários campos de estudo. Essa pluriviolência vindo à tona, enfada e desacomoda parte da sociedade que “ignora” o passado colonial italiano e o lastro que dele advém, pois aponta a escassez tanto de políticas públicas para minorias quanto de representatividades étnico-raciais. As relações entre as personagens da obra de ficção narrativa Negretta. Baci razzisti (2020), de Marilena Delli Umuhoza, escritora italiana de origem ruandesa, sinalizam como o colonialismo praticado por vários países deslegitimou as identidades dos corpos negros (RIBEIRO, 2019), seja nos vínculos entre personagens brancas e negras seja entre personagens negras entre si. Negretta traz o ponto de vista de uma personagem negra que enfrenta a violência racial em vários níveis institucionais na sociedade bergamasca, discriminatória e preconceituosa, nos anos 1990. Desvelando nano racismos (MBEMBE, 2016) “distraídos” e “inconscientes”, os quais perpetuam um humor generalizado sobre estereótipos absorvidos na normalidade ardilosa que mantém definida a separação racial, as personagens de Marilena Umuhoza revelam os danos morais padecidos pelo racismo institucional e pelo racismo recreativo (MOREIRA, 2019), gerando impactos em suas próprias realidades e na de seus descendentes.

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