Abstract
Apresento nesse texto uma leitura da primeira parte (127a-135c) do diálogo Parmênides. Meu objetivo é demonstrar a possibilidade de que as críticas objetadas pelo velho Parmênides à hipótese platônica das Ideias, exposta e defendida pelo jovem Sócrates, não são letais à mesma hipótese, uma vez que estão assentadas em dois pressupostos que a ela são alheios e desnecessários. Primeiro, a pressuposição de Parmênides de que a “distinção” (diéiresai) entre Ideias e coisas delas participantes seja equivalente a total “separação” (chorís) entre ambas (Prm. 130b). Segundo, o fato de que o Eleata, na construção de seus argumentos, trata das Ideias como se fossem coisas materiais, isto é, tais como as coisas que são objetos de nossa percepção sensível. Pretendo mostrar de que forma esses dois pressupostos sustentam as dificuldades teóricas decorrentes das perguntas dirigidas por Parmênides a Sócrates, as quais esse último não consegue responder. Ao final, minha sugestão é de que Platão tenha posto na boca do velho Eleata uma interpretação errônea de sua própria hipótese das Ideias. Nesse sentido, nosso Filósofo, no diálogo Parmênides, estaria combatendo um certo platonismo.
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