Abstract

O conceito de tradução aplicado por Haroldo de Campos é uma importante vertente da sua obra. Partindo da noção de Bense, ele defende que a identidade de um texto literário reside na articulação das redes de informação estética, enfatizando que cada texto possui uma ordenação singular de signos. Ao tradutor cabe ler e reescrever essa informação, com os olhos firmados na tradução entendida como crítica e criação (CAMPOS, 2006). Transgressiva, a perspectiva de tradução luciferina (CAMPOS, 2005, p. 180) baseia-se em um gesto de insubmissão ao conteúdo do texto de partida, pensando o exercício de tradução do signo em si. A ideia é tornar o texto de chegada em uma espécie de original, transformando o tradutor em “criador”. Aliás, para Campos, essa seria a única saída, principalmente, no caso da poesia. Esse artigo tem, pois, por objetivo, o estudo dessa vertente de tradução no poema “Quisera no meu canto ser tão áspero”, de Dante Alighieri, transcriação conduzida por Campos. A recriação da “lira pétrea” – esquema singular de rimas que culmina no isomorfismo: mulher/pedra – a melopeia posta a serviço da violência da linguagem etc., convidam-nos a refletir sobre o método de tradução de Campos, percebendo aqui o poeta que habita o fazer do tradutor.

Highlights

  • The translation concept applied by Haroldo de Campos is an important part of his work

  • Ao tomar o modus operandi deste acontecimento do plano biológico e imprimi-lo à floração da literatura, ou seja, à sua evolução das formas, Haroldo de Campos nos aponta uma outra compreensão: ao invés de seguirmos uma linha ortotrópica, aquela que retoma a tradição apenas diacronicamente, julgando anacrônica qualquer aproximação fora do contexto histórico, optamos pelo desvio criativo: uma busca da aproximação de textos afastados por tempos e estilos literários, um ato que permite repensar os cânones: Em matéria de literatura, é sempre bom colocar-se, de quando em quando, a diacronia em pânico

  • 74) assinala ainda que, para Valéry, traduzir é “discutir por analogia”, ou seja, refletir sobre os ditames e liames empregados nas redes criativas que formam a linguagem do poema a ser traduzido, e as possibilidades de recriá-lo em uma transcriação: “discutir por analogia não era, pois, [praticar um exercício de] mera cópia ou imitação, mas significava algo ativo e transformador”

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Summary

Tradução e Plagiotropia: convergências1

Flamejada pelo rastro coruscante de seu Anjo instigador, a tradução criativa, possuída de demonismo, não é piedosa nem memorial: ela intenta, no limite, a rasura da origem: a obliteração do original.

Campos e Benjamin
O conceito de tradução na obra de Campos
Removendo pedras: a dama empedernida de Dante Alighieri e Campos
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