Abstract

O objetivo deste artigo é compreender as consequências metamórficas do incesto no pensamento timbira e, por meio desse tema, aprofundar o entendimento do conceito de parentesco nativo. Nesse sentido, serão exploradas as articulações entre certos aspectos (terminológicos, comportamentais, matrimoniais) do sistema de parentesco e as premissas ontológicas do mundo ameríndio, focalizando, em particular, o estatuto das relações de substância (um tópico tradicional da etnologia jê) em face do que poderia ser descrito como uma teoria indígena da Relação. A análise se guia por três hipóteses principais: a de que o campo do parentesco e o campo da humanidade são idealmente coextensivos; a de que essa coincidência deve ser construída por meio de um esforço deliberado de assemelhamento corporal, o qual constitui o processo de fabricação do parentesco como processo de fabricação de pessoas humanas; e a de que esse processo tem como condição o caráter dado da afinidade como esquema da diferença e da Relação no mundo indígena.

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