Abstract

resumo O planeta passa por diferentes crises que se entrelaçam na dimensão ambiental, econômica, de saúde, e são agravadas pela crise de governança. Mas tantas crises simultâneas também oferecem à humanidade a rara oportunidade de redirecionar seus esforços de desenvolvimento para um modelo que seja mais sustentável, com menor utilização de combustíveis fósseis e uma utilização menos predatória dos recursos naturais. Os vírus são um componente da biodiversidade e as entidades biológicas mais abundantes da Terra. Países megadiversos como o Brasil, com altos graus de vulnerabilidade social e degradação ambiental, possuem grande probabilidade de que novos patógenos que vivem em espécies silvestres pulem para os hospedeiros humanos. Isso depende, em grande parte dos cenários de transmissão, que são altamente favoráveis nos “wet markets” dos países asiáticos, e muito mais raros nos mercados populares do Brasil, quer seja pelas nossas tradições no consumo de carne de caça quer seja pela baixa densidade populacional, quando comparada a de países asiáticos. No Brasil o contato com vírus novos e desconhecidos se dá muito mais com a contínua aceleração da destruição de nossos biomas, a redução, fragmentação e perda de hábitats estamos constantemente ampliando o contato do homem com novos vírus. Considerando a nefasta sinergia entre as mudanças climáticas globais e as taxas de extinção de espécies, o Homo sapiens é a única espécie no planeta responsável pelas pandemias observadas no último século e a pela atual pandemia da Covid 19. Se por um lado a biodiversidade é a origem dos vírus, sem sombra de dúvidas, ela é também uma grande farmácia, e pode ser uma grande fonte de novos antitrombóticos, antimicrobianos e antivirais. Atualmente a biodiversidade é a origem de uma gama grande de moléculas utilizadas em antivirais utilizados nos tratamentos de HIV, herpes, hepatite B e C e influenza A e B. Atualmente há cerca 40 compostos internacionalmente aprovados, mas eles estão envolvidos na terapêutica de apenas 10 viroses. A situação é ainda mais crítica no caso de doenças negligenciadas, onde, por falta de interesse econômico, não há sequer linhas de pesquisa continuadas. Apesar de todas as perdas e instabilidades experimentadas atualmente, é possível perceber que o momento também permite aprender com a Covid-19, reconhecendo particularmente a ligação existente entre biodiversidade, os serviços ecossistêmicos e saúde humana, para reunirmos esforços e buscarmos evitar o surgimento de novas pandemias tão ou mais devastadoras que a atual.

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