Abstract

Resumo Este artigo aborda a espacialização das devoções negras e escravas, no enquadramento territorial das paróquias fronteiriças do termo de Vila Rica. Da dimensão pessoal da devoção, nas situações aflitivas do cotidiano, à corporação coletiva de classificação dos pretos da irmandade de Nossa Senhora do Rosário, examina-se o significado do espaço público para a representação social negra, ancorada na devoção do compromisso, mas realmente constituída na fluidez e no dinamismo político-religioso. A invocação basilar do culto público dos pretos, africanos escravos (e ainda libertos), contribuindo para dispor as divisões socioculturais, desdobrou-se num devocionário especificamente negro que incluiu outras santidades como, principalmente, Mercês e Santa Efigênia. Articula-se essa mobilidade da fé nos mediadores santos à configuração paroquial (efeito do embate de direitos eclesiásticos e seculares entre a matriz e as capelas), à urbanização difusa do território minerário e ao confronto das representações negras e mestiças sob a égide de patronos católicos.

Highlights

  • Os pretos devotos do Rosário no espaço público da paróquia fundamental às noções da soberania no Antigo Regime Português

  • From the personal dimension of devotion, in situations of distressing daily life, to the collective corporation in order to classify the pretos of the Brotherhood of Our Lady of the Rosary, this analysis focuses on the meaning of public space for the social representation of blacks that was anchored in the compromise of devotion, built in the fluidity and in the political-religious dynamism

  • O ex-voto apresenta a cena do desabamento da mina de ouro situada no morro, onde as lavras ocasionavam acidentes graves que resultavam em ferimentos, fraturas e mortes dos trabalhadores

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Summary

Devoção pessoal e memória da graça a escravos e libertos

Os quadrinhos pintados dos ex-votos – ou melhor, ex-voto suscepto –, manifestação dos afetos devocionais populares, ajudam a desvendar as práticas religiosas que se integravam à experiência da escravidão no território das Minas, na América Portuguesa. É consenso, entre os estudiosos dos ex-votos produzidos entre os séculos XVII e XIX no mundo católico, que essas tabuinhas pretendiam denunciar a relação pessoal do fiel cristão – o beneficiado – com o orago ou a divindade – o benfeitor. Os escravos e os libertos, notadamente das Minas, foram personagens dessas pinturas votivas da religiosidade popular. Apesar de parecer um faiscador ou mineiro com atuação própria, o escravo é identificado através do seu senhor, o que reproduz as práticas de escrita dos ex-votos mineiros. Como na situação de autonomia do trabalho, representa-se o protagonismo devoto do escravo, assistido por seus companheiros, com as duas invocações sobre as usuais nuvens, à direita. Sabe-se que o Senhor de Matosinhos alcançou prestígio miraculoso nas Minas Gerais, com a divulgação das graças concedidas por esse orago do povoado de Congonhas do Campo, conforme a administração proveitosa realizada pela irmandade

Os pretos devotos do Rosário no espaço público da paróquia
Considerações finais
Referências bibliográficas
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