Abstract

Resumo A ditadura, por mais violenta que seja, busca sua justificação na edição de normas aparentemente legítimas, que se pretendem democráticas por algum movimento retórico. O discurso sobre a “Revolução de Março” vai desde o tom panfletário até o de argumentos acadêmicos, como os escritos de Miguel Reale. Embora aclamado como um dos mais importantes juristas brasileiros do século XX, seus trabalhos e teorias, como a Teoria Tridimensional do Direito, têm sido normalmente dissociados de uma mais adequada compreensão do contexto de seu desenvolvimento. Este artigo supre esta lacuna ao localizar Miguel Reale na história. Como um dos juristas mais proeminentes para a formação do pensamento autoritário no Brasil, este artigo procura, diacronicamente, analisar o discurso de justificação da ditadura em seus textos políticos de três períodos diferentes de nossa História, investigando em que medida há continuidade nos projetos autoritários levados a cabo em nosso país.

Highlights

  • Para o estudioso do direito constitucional, ditaduras são normalmente apresentadas como a antípoda do que tanto se defende sob o conceito de constitucionalismo democrático

  • democratic based on a rhetorical move

  • This Article fills this gap by placing Miguel Reale in history

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Summary

A justificação do golpe

Humberto Castelo Branco, em citação de Reale, alegou em visita à Bahia que “a Revolução é o síndico de uma pobre massa falida” (REALE, 1965, pp. 19-20). No texto do Ato, ao passo que se pregava o objetivo de “restaurar” a ordem nacional, a ditadura delegava a si um poder superior àquele necessário para a promoção da reforma constitucional. Tal ambiguidade pode ser identificada em uma passagem da obra Da Revolução à Democracia, publicada em 1977, em que Reale afirma, como tema central, junto da ideia de formação de uma nova imagem para o país por meio da “revolução” (da mesma forma que se propõe nos Imperativos), a “realização de reformas de base num clima de ordem e hierarquia” Segue-se, então, a ideia de “fundação de uma ordem democrática mais aderente às nossas circunstâncias, ainda que com o sacrifício necessário e provisório de certas franquias cívicas” Segue-se, então, a ideia de “fundação de uma ordem democrática mais aderente às nossas circunstâncias, ainda que com o sacrifício necessário e provisório de certas franquias cívicas” (REALE, 1977, pp. 54-55)

Amigos e inimigos
Os imperativos da revolução
O Estado integral
Os imperativos de março de 1964 e suas temporalidades
A revolução em retrospectiva
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