Abstract

O presente artigo tem como objetivo analisar amostras de cartazes dos protestos de 2013 realizados nas principais cidades brasileiras, na esteira da luta pelo “passe livre”. Propomo-nos a estudar os cartazes, descrevendo-os sob a perspectiva multissistêmica (CASTILHO, 2010). Os cartazes que aqui recolhemos para constituição do corpus são parte de um gênero textual e discursivo específico, conforme Bakhtin (2011). A pesquisa explora as mútuas interações estabelecidas entre o linguístico e o social por meio desse gênero, realizando análise quantitativa dos cartazes nos diversos níveis (do lexical ao pragmático-discursivo). Nosso trabalho se apoia nos conceitos de habitus e mercado linguístico (BOURDIEU, 2003) e de “modernidade líquida” (BAUMAN, 2001). Os resultados de nossa análise mostraram que: 1) o tema mais comum veiculado pelos cartazes refere-se ao ato de protestar, 2) apenas 40% deles são textos argumentativos e injuntivos, 3) os cartazes têm, em geral, apenas uma única frase, 4) em baixa frequência fazem uso de recursos não verbais; 5) os cartazes têm, em geral, frases de período simples; 6) apresentam baixo uso de verbos no imperativo; 7) servem pragmaticamente para declarar algo e provocar alguma reflexão daquele que o lê, mas apresentam baixo potencial reivindicatório. Todas essas características nos indicam que os cartazes dos protestos de 2013 guardam uma relação com os textos das redes sociais, aos quais estão conectados em tempo real, e são produto linguístico de uma geração que mantém em seu habitus as regras da “modernidade líquida”.

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