Abstract

Repare bem (Maria de Medeiros, 2013) e Luz obscura (Susana de Sousa Dias, 2017) são ilustrativos da abordagem de realizadoras de documentários a questões de memória em regimes autoritários, no Brasil e em Portugal. Ao contrapor memórias afetivas aos registos oficiais do Estado, enquadrando numa ‘narrativa de família’ fotos de cadastro e fotos na prisão de membros de um núcleo familiar registadas pelo aparelho repressivo dos respetivos regimes, os documentários inevitavelmente recuperam uma memória dos contributos de mulheres quer enquanto testemunhas quer, sobretudo, enquanto agentes políticos e sociais. Este artigo partirá de uma abordagem combinada, incorporando uma perspetiva feminista com o estudo de memórias (Marianne Hirsch, Annette Kuhn), que estuda a especificidade das fotografias de família enquanto veículo para explorar a intersecção entre o pessoal e o oficial, o íntimo e o público, família e nação, memória e história. Ambos os documentários vão um passo além ao questionar, e fazer colapsar, os ditos binários à medida que estruturam e ordenam as fontes históricas dentro de uma ‘moldura familiar’: fotos de cadastro e na prisão são inscritas em substituição de um hipotético álbum de família numa performance que desafia quer a moldura ideológica dos regimes autoritários quer os seus legados históricos, hoje em dia objeto de contestação e de manipulação política.

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