Abstract
O objetivo deste artigo é analisar as manifestações do discurso terapêutico no programa Encontro com Fátima Bernardes entre 2012 e 2015 nos relatos pessoais de celebridades e anônimos sobre experiências traumáticas. A análise busca demonstrar a constituição de um ethos testemunhal que se baseia na produção da autenticidade do relato pelo sofrimento. Numa cultura marcada pelo discurso terapêutico, a fala sobre si no programa reinscreve o deslocamento do problema individual ao coletivo pelo clamor de representação por meio de voz, corpo e presença que se tornam midiaticamente públicos por exemplificarem os desígnios atuais de autoestima, autoaprimoramento e superação num clima de leveza, informalidade e descontração. Nesse sentido, enquanto o trauma é menos o que interdita uma cadeia representacional de acontecimentos passados do que aquilo que se supera, o testemunho é a forma privilegiada de exposição dos acontecimentos desafortunados, transformando os sofredores em exemplos de sobrevivência.
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