Abstract

Investiga-se o trauma a partir da figura da vítima, uma das marcas da cultura atual. O objetivo é examinar a mudança no tratamento dispensado aos sujeitos tidos como traumatizados na passagem da modernidade freudiana para a contemporaneidade a partir de narrativas que versam, nos dois momentos, sobre experiências consideradas traumáticas. Conclui-se que há uma sensível diferença entre a noção freudiana de trauma, que remete ao excesso, ao inesperado, e aquela de traumatismo, um evento socialmente legitimado como produtor de vítimas. Ainda, sustenta-se a atualidade da clínica psicanalítica na sua potência para ultrapassar a identidade vitimizada e valorar os destinos sempre singulares do trauma.

Highlights

  • This paper investigates trauma from the figure of the victim, one of the hallmarks of current culture

  • Face ao traumatismo e seu correlato, a condição social da vítima, a psicanálise pode convidar a uma restituição do trauma — que não coincide com o traumatismo, não parece demasiado ressaltar —, no que expressa de convocação do sujeito a uma permanente construção de si minimamente desembaraçada das identidades que lhe são imputadas em um dado momento, em uma determinada cultura

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Summary

DO TRAUMA À VÍTIMA

O tema do trauma é objeto de pesquisa nas mais diversas áreas de produção do conhecimento, dentre as quais as ciências humanas e sociais. É possível asseverar, a este propósito, que a própria psicanálise surge do estudo do trauma, uma vez que a pré-história da clínica aventada por Freud foi inteiramente dedicada à hipótese da etiologia traumática para a leitura dos sintomas histéricos que desafiavam a medicina à época. Por um lado, parece difícil vislumbrar uma diferença mais marcante entre as duas épocas — a modernidade freudiana e a contemporaneidade — referente à figura do trauma, por outro, com respeito à leitura que se faz da figura da vítima, na cultura atual, talvez não se possa dizer o mesmo. Isso porque haveria a passagem de um momento no qual os sujeitos que se enunciavam como traumatizados eram alvo de suspeição, sob a alegação de simularem o mal-estar que os acometia, para outro paradigma em que o traumatismo revela-se premissa exclusiva para conferir a estes a característica de vítima. Freud desloca o julgamento moral para uma clínica orientada pela posição do sujeito diante de seu trauma particular — para além, inclusive, do acontecimento em si

DO TRAUMA AO TRAUMATISMO
EM TEMPOS DE VÍTIMAS
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