Abstract

O presente trabalho trata do estudo de esporos de fungos provenientes de um testemunho obtido numa das turfeiras do distrito de Eugênio de Melo, médio vale do rio Paraíba do Sul, estado de São Paulo, Brasil. Com idades entre 11.240 e 300 cal. anos AP, o testemunho mostrou dois ciclos sedimentares, separados por um hiato de cerca de 7.000 anos. A extração dos palinomorfos seguiu o protocolo de processamento de sedimentos quaternários, com dissolução dos silicatos e silicofluoretos, eliminação dos ácidos húmicos e acetólise. Identificaram-se 210 tipos de palinomorfos de fungos, baseado na comparação com gêneros e espécies fósseis afins e modernas, com a finalidade de estabelecer seu significado ecológico; destes, os 40 mais representativos foram selecionados para elaboração de diagramas, que permitiram estabelecer três intervalos. O Intervalo I entre as profundidades de 360 e 190 cm e idades entre 11.240 cal. anos AP e 8.930 anos AP (idade interpolada); o Intervalo II entre as profundidades de 191 e 110 cm e idades entre >718 e 550 anos AP (interpolada); e o Intervalo III entre as profundidades de 110 e 0 cm e idades entre 550 anos AP (interpolada) e atual. Constatou-se que os espécimes dominantes são os de hábito saprófito (decompositores de matéria orgânica em putrefação), seguidos pelos parasitas, especialmente de folhas e de animais (menos comum), além daqueles patógenos de vegetais e coprófitos. A assembleia de esporos de fungos ao longo do perfil sedimentar indica desenvolvimento e preservação em ambiente redutor, com farta disponibilidade de matéria orgânica. Alguns tipos de esporos micorrízicos evidenciam presença de vegetação rasteira (Cyperaceae e Poaceae) associada a locais úmidos e/ou alagados. A ocorrência de Ascodesmisites malayensis, saprófito de folhas mortas de Cyperaceae, encontrado nos sedimentos datados entre 11.240 cal. anos AP e 10.800 (idade interpolada), confirma substrato encharcado ou com nível de água mais elevado. Anatolinites, gênero patógeno hospedeiro em folhas de vegetais vivas, ocorre no início do intervalo II, após o hiato temporal (± 7.000 anos AP), quando a área deve ter sido retomada por matas. Parasitas de vegetais, como Diporicellaesporites cf. D. liaoningensis e Diporicellaesporites sp. 9, habitam substratos lenhosos e indicam existência de vegetação arbórea no primeiro ciclo de deposição. Monoporisporites sp. 6, decompositor de excrementos, tem sido relacionado com esterco de animais herbívoros e ocorre nos últimos 300 anos. Sua abundância nesse intervalo provavelmente está relacionada à ação antrópica nas áreas hoje constituídas por turfeiras.

Highlights

  • THE PALEOENVIRONMENTAL SIGNIFICANCE OF FUNGAL PALYNOMORPHS IN A QUATERNARY PEAT FROM THE MIDDLE PARAÍBA DO SUL RIVER VALLEY, SP, BRAZIL

  • A interpretação de SANTOS (2009) para o intervalo entre 11.240 cal. anos AP e 8.930 anos AP. é de condições climáticas quentes e úmidas, com matéria orgânica resultante da mistura de plantas dos ciclos C3 e C4 e fitoplâncton, ideia reforçada aqui pela concentração de fungos saprófitos, como Foveodiporites sp.1 (Figura 2M) e Monoporisporites sp.2 (Figura 3J) e suas respetivas atividades ecológicas de decomposição (Figura 4)

  • Em relação aos outros intervalos, verificam-se as maiores quantidades de fungos predadores, habitantes de solos, patógenos de vegetais, coprófitos e saprófitos

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Summary

INTRODUÇÃO

Os palinomorfos de fungos praticamente não sofrem transporte, representam o local de deposição, especialmente quando a concentração relativa de outros palinomorfos é baixa, e, por isso, tem sido importantes nas reconstruções paleoambientais e paleoecológicas. POPOV (1967) desenvolveu os primeiros estudos sobre esses palinomorfos, entre os quais, descreveu diversos tipos de esporos atribuídos a fungos parasitas patógenos associados a diferentes partes dos vegetais (caules, folhas etc.). De acordo com PEIXOTO JÚNIOR (2011) e TEIXEIRA-SANTOS et al (2015), grãos de pólen de poáceas associados aos de plantas vasculares coincidem com a presença significativa de esporos de fungos parasitas patógenos, que produzem a ferrugem marrom sobre os vegetais, como por exemplo Puccinia, que se desenvolve em poáceas silvestres e cultivadas, além de outros (Helminthosporium e Mycosphaerella). O conhecimento da ecologia dos fungos fósseis, conforme apresentado, permite as reconstruções paleoambientais, paleoclimáticas e arqueológicas. ELSIK (1968) foi um dos pioneiros nos estudos de palinomorfos de fungos extraídos de sedimentos e estabeleceu um sistema de classificação artificial, com base na morfologia dos esporos, levando em conta as aberturas, forma, ornamentação, simetria e presença de septos. Dessa forma, os resultados e interpretações paleoclimáticas de ambos os estudos foram aqui comparados

ÁREA DE ESTUDO
MATERIAIS E MÉTODOS
Idades
Análises qualitativa e quantitativa
O ambiente de deposição
DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES PALEOECOLÓGICAS
CONCLUSÕES
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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