Abstract

Minha intenção é a de mostrar como uma leitura cética dos diálogos socráticos de Platão permite explicar alguns impasses nos quais resulta a interpretação dogmática desses diálogos. Enumero aqui, de maneira programática, os elementos que permitirão sustentar que, nos diálogos de juventude, Platão desenvolveu uma lógica que conduz a uma posição forte sobre os limites do conhecimento e do intelectualismo. Essa interpretação se inspira em traços dominantes do ceticismo de Arcesilau (séc. III a.C.). Mostrarei como os diálogos de Platão podem ser lidos como a inspiração por trás da posição de Arcesilau quando este afirma que seria preciso suspender o julgamento e, na falta de certeza, seguir o que é razoável (eulogon). De uma parte, o estudo do estatuto paradoxal da ignorância socrática e do papel do oráculo na Apologia permite discernir o funcionamento de uma lógica propícia a gerar aporias. De outra parte, a análise do problema da virtude-ciência no Protágoras e no Laques permite exibir os mecanismos de uma argumentação cuja conclusão é a impossibilidade de defender hic e nunc uma ética estritamente intelectualista.

Highlights

  • A historiografia da questão socrática testemunha o embaraço em que alguns intérpretes se encontraram ao querer defender a historicidade do Sócrates de Platão ao mesmo tempo em que perceberam a possibilidade de se fazer uma leitura cética dos diálogos socráticos

  • virtude-ciênc ia no Protágoras e no Laques permite exibir os mecanismos de uma argumentação cuja conclusão é a impossibilidade

  • Fazendo a equação entre a hipótese de uma virtude-ciência e uma concepção do saber que se expõe a aporias, o Sócrates da juventude de Platão teria por função pôr em dúvida a possibilidade de fundar a virtude sobre um saber inacessível ao humano

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Summary

Uma questão de história da filosofia

A historiografia da questão socrática testemunha o embaraço em que alguns intérpretes se encontraram ao querer defender a historicidade do Sócrates de Platão ao mesmo tempo em que perceberam a possibilidade de se fazer uma leitura cética dos diálogos socráticos. A partir do momento em que o objetivo dos historiadores da filosofia passa a ser o de descobrir as doutrinas positivas de Sócrates e de Platão a fim de distingui-las, parece difícil, se não impossível, acomodar a leitura cética com a tese da historicidade dos diálogos socráticos de Platão. C e rca de oitenta anos após a morte de Platão, Arcesilau deu uma orientação claramente cética à escola platônica.Ainda pouco se conhece sobre esse longo episódio da história da Academia, mas parece que essa orientação durou até 80 a.C., com a chegada de Antíoco de Ascalon à sua direção. Torna-se assim possível que o uso crítico da razão compatibilize a exigência de um assentimento prático e refletido, embora limitado, no caso onde a ação pareça necessária, com o reconhecimento de que esse assentimento não é fundado sobre nenhum conhecimento certo

Os aspectos do “dispositivo aporético” em Platão
Um exemplo: o oráculo de Delfos
O intelectualismo e Sócrates
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