Abstract

O presente artigo visa à análise do recente livro de Milton Hatoum, A Noite da Espera, publicado em 2017 e pertencente à trilogia O Lugar mais Sombrio. Tal análise procura identificar no romance, escrito em forma de diário ficcional, a potencialidade da escrita de si como espaço de autoconhecimento, de autorreflexão e de resistência diante da dupla crise vivida pelo narrador: uma crise de ordem familiar e outra de ordem histórico-política, representada pela ditadura civil-militar brasileira. Ademais, enxergam-se os vestígios e as ruínas como consequentes desse processo crítico, proporcionando entender o diário como a escrita mais pertinente nesse espaço-tempo caótico.

Highlights

  • This paper aims to present an analysis on Milton Hatoum’s recent work, A Noite da Espera, published in 2017, and part of O Lugar mais Sombrio trilogy

  • Tendo como base a produção contemporânea, encontram-se duas grandes vertentes de narrativas: aquelas cuja temática se fundamenta e se ambienta no espaço urbano, amalgamando os discursos do marginal e do excluído, e as narrativas de memória, representativas de uma discussão a respeito do passado histórico, posto em revisão e em reinterpretação, em consonância com a busca pela identidade e pelo autoconhecimento do indivíduo em um espaço em crise, onde as múltiplas configurações identitárias colocam em xeque a ideia de nação e de nacional

  • Falando com estranhos – o estrangeiro e a literatura brasileira

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Summary

A produção literária brasileira e a ditadura civil-militar

O romance a ser abordado, A Noite da Espera, escrito por Milton Hatoum, publicado em 2017 e pertencente à trilogia O Lugar mais Sombrio, revela, em suas páginas, o terrível momento atravessado pelo País a partir do golpe militar de 1964. É interessante notar que, a partir de 2014, ano do cinquentenário do golpe de 1964, a produção literária a respeito desse período se intensificou, trazendo títulos como: Qualquer maneira de amar: um romance à sombra da ditadura (2014), de Marcus Veras; Damas da noite (2014), de Edgard de Telles Ribeiro; Tempos extremos (2014), de Miriam Leitão; A resistência (2015), de Julián Fuks; Palavras cruzadas (2015), de Guiomar de Grammont; Nuvem negra (2016), de Eliana Cardoso; De mim já nem se lembra (2016), de Luiz Rufatto; Quarenta dias (2014) e Outros cantos (2016), de Maria Valéria Rezende; Cabo de guerra (2016), de Ivone Benedetti; Os visitantes (2016), de Bernardo Kucinski; Lua de vinil, de Osmar Pilagallo (2016); Rio-Paris-Rio (2016), de Luciana Hidalgo, Noite dentro da noite: uma autobiografia (2017), de Joca Reiners Terron e o romance de Milton Hatoum, aqui discutido e analisado. Depois dessa longa lista de produções literárias, percebe-se que o romance de formação A Noite da Espera insere-se na literatura brasileira contemporânea como um daqueles que, por meio da narrativa de memória, apresenta o passado conflituoso da ditadura civil-militar brasileira. Dessa forma, a literatura, cujo empenho se manifesta no trabalho com a palavra, segundo Roberto Vecchi e Regina Dalcastagnè (2014, p. 12), pode dar luz “aos restos, aos despojos, às ruínas e às destruições do passado, proporcionando uma monumentalidade alternativa”, permitindo, assim, “reimaginar e narrar, inclusive no labirinto tormentoso de um passado que continua fugindo e não se deixa integralmente, ainda, apreender” (VECCHI; DALCASTAGNÈ, 2014, p. 12)

A sinuosa noite da espera
O diário e o exílio: um lugar sem mãe
O diário e o testemunho histórico-político
Rio de Janeiro
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