Abstract

O artigo realiza uma análise do “racismo de classe”, seguindo a formulação proposta por Jessé Souza, produzido pelas “elites brasileiras” nas suas representações acerca dos fenômenos dos pobres e da pobreza. Na primeira parte, procedemos a uma fundamentação sociológica da noção de racismo de classe, com base nos trabalhos de Pierre Bourdieu e Norbert Elias. Na segunda parte, analisamos o racismo de classe à brasileira, isto é, as particularidades assumidas pelo racismo de classe no Brasil. Sustenta-se que o racismo de classe constitui-se como uma reação das elites à ascensão a certas esferas de consumo por parte de segmentos mais pobres da população brasileira, notadamente os batalhadores. Na terceira parte, analisamos propriamente algumas manifestações do racismo de classe veiculadas na mídia – seja por jornalistas, ou manifestações anônimas produzidas diretamente por membros das elites. Demonstra-se que o racismo de classe opera uma associação entre a pobreza e a vagabundagem, a falta de inteligência e a ausência de modos de conduta distintos e civilizados. Por fim, propomos o conceito de “pobreza arcana”, compreendido como o fenômeno de exaltação dos signos da pobreza e de ocultamento das suas origens, defendendo a necessidade de uma análise relacional para o fenômeno da pobreza-riqueza.

Highlights

  • O presente artigo se propõe a realizar uma análise do “racismo de classe” manifesto pelas “elites brasileiras”[3] nas suas representações acerca dos fenômenos dos pobres e da pobreza

  • The article analyzes the “class racism”, following the formulation proposed by Jessé Souza, produced by “Brazilian elites” in their representations about the phenomena of the poor and poverty

  • We proceed to a sociological foundation of the notion of class racism, based on the works of Pierre Bourdieu and Norbert Elias

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Summary

Fundamentos Sociológicos ao Conceito de Racismo de Classe

Para Jessé Souza, a noção de racismo de classe – tomada de empréstimo da sociologia bourdieusiana, sem o devido reconhecimento por parte do autor – é encarada como um fato social, isto é, como um dado sociológico. Podemos postular que a pertinência sociológica da noção de racismo de classe se explicita, em última instância, pelo fato de diferenças em termos de posição social e desigualdade de capitais serem transformadas em diferenças inatas e intrínsecas, da ordem da natureza, do habitus (em sentido bourdieusiano), da hexis corporal e de qualidades intrinsecamente distintivas e superiores associadas aos grupos dominantes. O racismo de classe serve para marcar as fronteiras de grupo, entre dominantes e dominados, operando uma violência simbólica em relação ao estilo de vida e aos valores das classes baixas, sendo produto da autoimagem elitista das classes dominantes e de uma estratégia de estigmatização e de distinção, que tem por finalidade última relegar os grupos dominados a uma condição de inferioridade, legitimando a estrutura social de desigualdades e afirmando uma posição de superioridade ocupada pelas elites

Racismo de Classe à Brasileira
As Manifestações do Racismo de Classe
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