Abstract

Alameda (1963), de Astrid Cabral, é um livro composto por vinte contos, nos quais os protagonistas causam certo estranhamento no leitor (um grão de feijão; a terra de uma praça; uma cerca de madeira; etc.). Os narradores dos contos, quando em primeira pessoa, pertencem ao mundo vegetal. Suas sensações, anseios e vivências nos são relatados a partir de suas próprias vozes. E, quando em terceira pessoa, eles, muitas vezes, posicionam-se no mesmo nível dos personagens, recorrendo, em alguns casos, ao estilo indireto livre, como no conto “A orquídea de exposição”, por exemplo. Neste tipo de construção, realiza-se um processo de acercamento entre o humano e o vegetal, apresentando narradores com pontos de vista que podem ser considerados como híbridos, pois transitam entre os dois mundos. Levando em conta as particularidades dos personagens, buscou-se, neste estudo, estabelecer um processo de aproximação/distanciamento entre estes e o que é tido como concernente ao humano, o qual deu origem à questão que intitula este texto: O que querem os personagens de Alameda? Uma tentativa de resposta foi elaborada a partir do conceito de concepção de um projeto de existência, presente nos escritos do filósofo francês Jean-Paul Sartre, pertencente à escola existencialista, considerando, de forma pontual, dois elementos narrativos: o tempo e o espaço.

Highlights

  • A manauara Astrid Cabral foi a única mulher a participar do Clube da Madrugada1, uma associação literária e artística fundada em Manaus-AM, em 1954, a qual objetivava, dentre outras coisas, discutir a forma como a natureza amazônica era representada nas produções desse estado

  • Este estudo parte de uma pergunta (O que querem os personagens de Alameda?) que necessita, para ser respondida, atentar para o fato de que estamos nos referindo a seres do mundo vegetal, os quais são estruturados a partir de um processo de aproximação/ distanciamento do humano

  • A resposta mais adequada para a pergunta que intitula este estudo (O que querem os personagens de Alameda?) parece ser: realizar seus projetos existenciais, os quais são elaborados a partir de suas condições vegetais, levando em consideração o aspecto espaçotemporal ao qual eles estão submetidos

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Summary

Considerações iniciais

A manauara Astrid Cabral foi a única mulher a participar do Clube da Madrugada, uma associação literária e artística fundada em Manaus-AM, em 1954, a qual objetivava, dentre outras coisas, discutir a forma como a natureza amazônica era representada nas produções desse estado. Essa restrição espacial promove uma existência que, embora à primeira vista possa parecer limitada, ao final das contas, explora uma amplitude de possibilidades, descartando qualquer pretensa monotonia, pois, não nos esqueçamos, estamos lidando com personagens nada convencionais, para os quais o menor incidente pode assumir proporções gigantescas, como no conto “A aventura dos crótons”, no qual uma forte chuva arranca os crótons da terra, fazendo-os rolar barranco abaixo. A limitação espacial, o ambiente da alameda e a aversão às mudanças são determinantes para as especificidades dos projetos, uma vez que, nesses casos, a questão não é apenas permanecer ou deslocar-se, mas sim perceber a existência de seres que, da mesma forma que o homem, encontram-se a mercê das contingências da vida, sabedores da finitude de suas existências. Essa noção que interliga passado, presente e futuro constitui-se no que podemos chamar de um projeto, individual, particular de cada ser, mas que toca o coletivo, uma vez que abarca a manutenção da espécie

Considerações finais
NOTAS DE AUTORIA

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