Abstract
No inesperado ciclo revolucionário que se abre com a queda do Estado Novo em Portugal a 25 de Abril de 1974, o movimento de patentes intermédias (MFA) que tinha realizado o golpe torna-se no protagonista político para que todos olham. Munido apenas de um programa político vago, os militares do MFA vão lançar-se na busca por referências que possam inspirar o processo revolucionário português e a constituição das novas Forças Armadas. É neste sentido que, com matizes e variações substanciais, o MFA se volta para o que entende ser o Terceiro Mundo —grande espaço geopolítico que em tempos recentes tinha servido de palco às experiências revolucionárias mais criativas e ousadas. Se a aproximação de Portugal ao Terceiro Mundo surge num primeiro momento como um enunciado de política externa, a breve trecho ela entra em diálogo íntimo com o rumo que o processo revolucionário português irá tomar e torna-se esteira de questionamento dos valores nucleares da identidade nacional: será Portugal um país do Terceiro Mundo? Mobilizando diferentes arquivos, este ensaio mapeia a trajectória de aproximação dos militares do MFA ao Terceiro Mundo, demonstrando como ela foi —na sua pluralidade— determinante na construção do MFA como actor político durante o PREC; e procura desta forma compreender como o último império colonial em África se viu, de forma abrupta, entre a Europa e o Terceiro Mundo.
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