Abstract

Os projetos de psicologia científica enfrentam pelo menos duas ameaças. A primeira delas surge quando uma proposta de psicologia tenta seguir os cânones da ciência moderna. Nesse caso, torna-se necessário "objetivar o fenômeno psicológico", o que, geralmente, é feito por meio da sua tradução em termos fisiológicos. Mas, nesse ponto, a especificidade da psicologia é ameaçada pelo reducionismo fisiológico. A segunda ameaça aparece quando um projeto de psicologia tenta evitar o reducionismo fisiológico defendendo a natureza subjetiva irredutível do fenômeno psicológico. No entanto, isso coloca uma série de dificuldades metodológicas. Dessa maneira, a segunda ameaça às propostas de psicologia científica é o mentalismo, que impõe limitações ao emprego do método científico. O presente ensaio tem o objetivo de mostrar como o projeto de psicologia científica de Tolman pode ser visto como uma alternativa a essas duas ameaças. Em primeiro lugar, examinamos em que medida a concepção de comportamento como fenômeno molar afasta Tolman do reducionismo fisiológico. Em seguida, analisamos algumas dificuldades decorrentes dessa proposta, em especial, as limitações inerentes à epistemologia realista - adotada inicialmente por Tolman. Por fim, apresentamos a proposta tolmaniana de superação dessas dificuldades: trata-se da analogia entre teorias científicas e mapas, que revela a adoção de uma epistemologia instrumentalista por Tolman.

Highlights

  • Qualquer projeto de psicologia científica tem que enfrentar pelo menos duas ameaças

  • O argumento realista de que a mente é vista diretamente no comportamento foi questionado até mesmo por outros behavioristas da época, obrigando Tolman, já em 1928, a admitir que essas propriedades eram inferidas do comportamento e não diretamente percebidas

  • Essa hesitação em relação à epistemologia realista refletir-se-á em uma mudança em relação à natureza do propósito e da cognição, que ocorre a partir da segunda metade dos anos 1920: aos poucos vão deixando de ser consideradas propriedades do comportamento para tornarem-se determinantes do comportamento

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Summary

Comportamento como fenômeno molar

Tolman pertence a uma geração de behavioristas que se dedicaram a corrigir os exageros das propostas watsonianas (cf. Smith, 1986). Esse compromisso materialista de Watson fará com que estímulo e resposta – conceitos fundamentais para suas formulações – sejam definidos em termos puramente físico-fisiológicos: “usamos o termo ‘estímulo’ em psicologia como ele é usado na fisiologia [...]. Watson não admite que o reducionismo fisiológico seja uma ameaça real para suas propostas: Alguns psicólogos têm a noção de que o behaviorista está interessado apenas no registro momentâneo de respostas musculares. Tolman (1967 [1932]) entende que essa incongruência tem em sua raiz duas maneiras de considerar o comportamento, que não foram distinguidas por Watson: o comportamento como fenômeno molecular e como fenômeno molar. O desafio de uma psicologia científica não é traduzir o comportamento em termos físico-químicos, mas descrever as propriedades emergentes do comportamento

As propriedades emergentes do comportamento
Um problema na proposta molar de Tolman
O lugar das expectativas no sistema de Tolman
O pragmatismo como solução
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