Abstract
O artigo pretende explorar as narrativas em torno da construção do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará, em contraponto às demandas dos indígenas Anacé pela demarcação do seu território, visibilizando os conflitos entre a perspectiva indígena e a perspectiva do Estado que, aliada ao capital nacional e internacional, pretende garantir a implantação de inúmeras indústrias primárias na região. Resultado de um estudo qualitativo que triangula diversos métodos (observação participante, entrevistas livres e semi-estruturadas, além do levantamento bibliográfico e documental), busquei refletir sobre a agência e as mobilizações engendradas pelos Anacé para que suas narrativas, que conflitavam diretamente com as propostas do Estado do Ceará, fossem visibilizadas, tornando públicos, assim, outros sentidos de “desenvolvimento”.
Highlights
Superando o discurso hegemônico de desenvolvimento que subjaz a implantação de projetos como Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), os Anacé trazem a compreensão de que eles já tinham desenvolvimento, já tinham vida boa: “tudo o que a gente precisa estava aqui”, diz Dona Valdelice Anacé
Palavras-chave: Conflito socioambiental; desenvolvimento; resistências; povo indígena Anacé
Summary
A criação do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) remonta ao ano de 1985, quando a Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras). O aumento do nível de poluição do ar, com consequente aumento de doenças respiratórias, conforme denunciado pelos Anacé; as alterações sociais trazidas pela dinâmica dos trabalhadores contratados para as obras e que agora não estão mais empregados em nenhuma empresa do CIPP; o aumento da violência e do tráfico de drogas na região; a poluição de mananciais e o secamento de lagoas e riachos que abasteciam as comunidades indígenas; a pressão trazida pela especulação imobiliária e a situação de confinamento sentida pelos indígenas ilhados no seu próprio território, são exemplos dos impactos socioambientais narrados por eles e também identificados em estudos de Bezerra (2010) e Gomes (2014). Não obstante a Reserva seja vista como terra desconhecida, os indígenas reafirmam a sua “capacidade de transformar a Reserva em território tradicional tendo como base a união” (SOUZA, 2019, p. 58), porque tradicional para os Anacé é onde se tem história e essa história ainda não encerrou
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