Abstract

É objetivo deste trabalho aduzir dados para a história do pretérito mais-que-perfeitoem português. Emestudo anterior sobre esta temática (Brocardo, 2010) concentrei a minha análise nos fatores que terão determinado a tendência para o desuso da forma simples deste tempo gramatical, ou para a sua obsolescência parcial, em detrimento da forma composta. Procurarei aqui alargar o estudo, propondo um confronto entre os percursos diacrónicos das formas verbais de perfeito e mais-que-perfeito, simples e compostas. Começarei com uma breve nota sobre o mais-que-perfeito em português e espanhol, focando a divergência que se observa nas evoluções respetivas, para me concentrar depois na análise dos valores do mais-que-perfeito no passado do português. Procurarei por fim concluir com a apresentação dos paralelismos e das divergências observáveis na evolução do perfeito e mais-que-perfeito em português.A análise que proponho tem como base dados recolhidos em fontes textuais de diferentes tipologias, incluindo textos genericamente caraterizáveis como não literários e literários, datados (ou datáveis) entre os séculos XIII e XVI. Os textos pesquisados e analisados são referidos no final da bibliografia, cabendo aqui uma breve nota sobre a metodologia utilizada. Os exemplos que se apresentam como ilustrativos correspondem, naturalmente, apenas a uma parte dos dados analisados, que foram recolhidos a partir de corpora ou retirados diretamente das edições respetivas. Privilegiou-se uma análise fina das ocorrências assinaladas em detrimento de uma recolha quantitativamente mais significativa. Além de restrições de ordem prática, dada a dificuldade inerente a pesquisas exaustivas deste tipo de dados, em textos com variação gráfica assinalável, considera-se também que os dados quantitativos não são necessariamente muito expressivos. Dois tipos diferentes de fatores devem ser neste contexto considerados: por um lado, a própria representatividade quantitativa da documentação remanescente, que é muito desigual para as épocas mais antigas, em particular o século XIII, com muito menor número de textos conservados (e deve notar-se que se consideram apenas textos conservados em testemunhos da época de produção original ou relativamente próximos da mesma, o que desde logo exclui cópias tardias); por outro lado, os tipos ou, talvez melhor, os géneros textuais, que à partida condicionam a ocorrência (em termos de frequência ou mesmo em absoluto) das formas ou construções linguísticas em estudo. Ambos os fatores, portanto, interferem no número de ocorrências, o que significa que uma simples contagem da frequência de uma dada forma ou construção poderá carecer de significado, sobretudo se com base nela se pretender inferir diretamente a respetiva produtividade, comparando diferentes sincronias ou dados recolhidos em diferentes géneros textuais. Sempre procurando não esquecer este tipo de limitações, inevitavelmente impostas à análise de dados linguísticos do passado da língua, procurar-se-á relativizar quaisquer observações sobre frequência, preferindo analisar um conjunto eventualmente mais limitado de dados de forma mais próxima e detalhada.

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