Abstract

O presente estudo, fundamentado nos pressupostos teórico-analíticos da Análise de Discurso Materialista, tem o objetivo de compreender o funcionamento discursivo de dois enunciados formulados por Jair Messias Bolsonaro quando se refere a duas tragédias nacionais: em setembro de 2018, com o incêndio do Museu Nacional, e em abril de 2020, com o crescente número de mortos pela Covid-19 no Brasil. A análise é justificada por se observar uma mesma estrutura sintático-semântico nas formulações, que são organizadas, segundo nosso gesto interpretativo, em quatro posições. Com a descrição e a interpretação das duas sequências, é possível afirmar que, a partir dos enunciados, há a reprodução de saberes organizados por uma formação discursiva neoliberal, que reproduz, pela posição-sujeito com a qual o sujeito-enunciador se identifica, o que estamos designando como ideologia da destruição. Para o desenvolvimento da análise, considerando a emergência do significante “messias” nas duas sequências, ditas em momentos diferentes, mobilizamos a noção de pré-construído e, também, partimos de uma teorização de Mariani (2014) sobre o nome próprio.

Highlights

  • Quer dizer, as transparências não fazem ver melhor, não definem com maior precisão

  • Para produzirmos a reflexão em torno dos dizeres de Bolsonaro, vamos, primeiramente, trazer alguns elementos para o debate sobre a forma como o processo de interpelação ideológica se articula à linguagem, o que justifica a compreensão da Análise de Discurso como uma teoria semântica de base materialista

  • Maceió, n. 23, p. 15-24, jan./jun. 1999

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Summary

O processo de interpelação ideológica e a linguagem

Para produzirmos a reflexão em torno dos dizeres de Bolsonaro, vamos, primeiramente, trazer alguns elementos para o debate sobre a forma como o processo de interpelação ideológica se articula à linguagem, o que justifica a compreensão da Análise de Discurso como uma teoria semântica de base materialista. O referente, então, só é possível de ser representado a partir de uma relação entre a língua e a sua exterioridade, e, com isso, [meu] e [eu] possuem um funcionamento dêitico, relacionado com as condições imediatas de produção e, também, com as condições amplas de produção do discurso, posto que só é possível reconhecer o sujeito-enunciador com base no resgate dos elementos materiais sócio-histórico-ideológicos que permitem esse processo. Com o adjetivo possessivo [meu] e, na segunda oração do período, com o pronome pessoal [eu], o sujeito-enunciador faz referência a si mesmo: O meu nome é Messias, mas eu não tenho que fazer milagre. Quando Bolsonaro, frente às duas tragédias que se apresentam, faz referência ao próprio nome, ele recorre a esse saber que todo mundo sabe sobre o que é um messias - assim como todo mundo sabe o que é um soldado, por exemplo, como diz Pêcheux (2009[1975]). Vamos aprofundar essa relação entre linguagem e discurso no momento seguinte, quando realizaremos outro gesto de análise calcado no batimento entre descrição e interpretação do corpus

Descrição e interpretação do corpus
Considerações finais
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