Abstract

Este artigo pretende discutir a complexa relação entre Estado e capital na produção do espaço urbano no Brasil, a partir do instrumento de indução do desenvolvimento urbano “Operação Urbana Consorciada” (OUC). Para isso, o caminho escolhido busca afastar-se de uma leitura simplória e dogmática, ofuscada por uma visão abstrata de um Estado burguês. São acionados conceitos e interpretações da teoria marxista que permitem a relativização da ideia de Estado, considerando o seu caráter classista seletivo na escolha de políticas e sua variável do equilíbrio de forças. Conceitos como “autonomia relativa” e “governança empreendedorista” são retomados como aporte à compreensão da atuação do Estado em meio às necessidades de acumular e de se legitimar na esteira das formas recentes da gestão pública urbana. A OUC, objeto de estudo deste artigo, é problematizada a partir de seus limites em constituir-se em um instrumento redistributivo agenciado pelo capital privado, coordenado pelo Estado e inserido, ao mesmo tempo, no contexto de uma política pública de matrizes progressistas. Por fim, são feitas considerações sobre uma possível influência dos diversos atores em torno do instrumento e suas manifestações passíveis de serem interpretadas pela teoria marxista.

Highlights

  • A redução da capacidade do Estado em prover políticas públicas tem sido associada diretamente ao agravamento dos problemas sociais e urbanos

  • This article aims to discuss the complex relationship between state and capital in the manufacturing

  • of urban space in Brazil inducted by the urban development instrument of the Urban Consortium Operation

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Summary

Dos contratualistas à crítica de Marx ao Estado em Hegel

O conceito de Estado está entre os mais controversos no campo do pensamento social. Essas concepções no pensamento moderno têm seu embasamento nas teorias contratualistas do jusnaturalismo, que foram desenvolvidas no processo de transição para o capitalismo, e têm entre seus maiores expositores Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). O “estado de natureza”, para Locke, pareça ser mais pacífico, ainda que com inconvenientes como a violação da propriedade, é a partir do contrato social que se limita a vontade individual e, por meio da razão, fomenta-se a sociedade política, um espaço moderado por leis. Essa instância seria concebida como “necessidade exterior e poder mais alto; subordinam-se as leis e os interesses daqueles domínios, mas, por outro lado, é para eles fim imanente, tendo a sua força na unidade do seu último fim universal e dos interesses particulares do indivíduo” (HEGEL, 1997, p.226). Marx inverte a equação hegeliana, isto é, a sociedade civil, entendida por sociedade de classes, estaria inserida em uma contradição em tal profundidade que o Estado não seria capaz de conciliar as classes. A contribuição desses autores será discutida a seguir e resgatada sua análise das formas múltiplas como o capital se apresenta, explicações úteis para tratar os arranjos coletivos no território urbano

Uma perspectiva marxista do Estado ao longo do século XX
O Estado capitalista e a política urbana neoliberal nas cidades
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